sexta-feira, 25 de julho de 2008

Palavras no intervalo do inverno errado


[entre tantas opções para onde o inverno foi? Curitiba/PR]




Curitiba, 03:23, 15 graus, sensação térmica superior a expectativa de inverno propícia a capital paranaense. Visto o mês de julho, depois de muito tempo sem escrever, apenas visitei outros escritos, outras películas, livros antigos, outros antigos recém adquiridos, e novos com aroma que somente as páginas nunca visitadas podem deterem. As férias assassinaram o inverno, desconhecia uma estação que sempre tão glamorosa permitiu-se se perder para os dias azuis e calorentos.

Lembro da Curitiba de inverno prazeroso, cinza com tonalidade londrina, dos casacos e cachecois desfilantes do centro, nos encontros das Marechais, ou das luvas que seguram os canecos de chopp nos bares do Largo da Ordem. À noite sempre se podia esconder entre os cobertores e aquecer o sentimento com filmes e músicas herdadas dos seus pais, uma boa pedida sempre era escutar Beatles e gritar bem alto - Help! E, o centro tinha as meninas, os traços sempre vistos na literatura de Dalton Trevisan, o Passeio Público não tinha viatura de polícia, nem as ruas laterais eram rodeadas de árvores que a noite se transformam em fantasmas além daqueles que mostram uma outra cidade. Curitiba cresceu, o "e" com este som muitas vezes é dilacerado com outros tons, isto não é errado, mas é retirante da essência do verdadeiro sotaque leite quente.


03:43, a canção oitentista diz - acordei com seu rosto e a lembrança do seu gosto, será que o contragosto da madrugada vive escondido em busca de retrato? Quando os retratos são escurecidos, melhor forma é não convencer a saudade que tudo vai passar até a Copa do Mundo. A forma como o mundo enxerga o amor é alterada sempre sem aviso prévio, sem muitas explicações, o vento enverga a porta e deixamos extravasar o sentimento que fala e escondem você. Sem mais vamos nesta eterna mudança de viver em cada canto, como todos fossem nossas casas.


03:54 - Mas, tão jovens? Fossem velhos não teriam corajem para mudar depressa, mas também não teriam motivos suficientes para acreditar que as coisas e as verdades sozinhas não conseguem entender muito bem o que sentimos, escrevemos, ou fingimos estar tudo bem.



A sensação térmica caiu um pouco, ainda é bem diferente daquela que me obrigava a vestir duas calças, estar todo engessado e escutar a minha adolescência espernear contra a friagem demasiada da madrugada. Lembranças de dias que não voltam mais.



Curitiba, 04:01, 15 graus (desconfio ser menos) - entre canções de velhas melodias e novas sensações escrevi um pequeno resquício daquilo que estava desatualizado, não que à partir desta vírgula de poucas palavras atrás não esteja mais.


Não é julho de 83, mas lembro do mês.
Scuissiatto.