sábado, 26 de março de 2011

O lado esquerdo não é apenas coração


créditos ao site oficial do Clube Atllético Paranaense - http://www.atleticoparanaense.com/


Aprendi na escola que amar é verbo, paixão, adjetivo, tudo definido pela ordem gramatical do dia-a-dia. Nas idas da vida, sei que há muito tempo, amor e paixão, são companheiros e estão estampadas na camisa atleticana. Aliás, grata coincidência, Atlético Paranaense também tem nas iniciais as letras A e P, as mesmas aprendidas na escola, para conjugar e atribuir conceitos sutis.

Parafraseando Drummond: quando cheguei ao mundo, meu pai me disse: vai, Bruno! ser atleticano para toda a vida. Pequenino, vestindo uma jogadeira do timaço de 83, ao lado da minha saudosa bisavó, eu deixava meus esguios e brancos braços serem ocupado pelo tecido rubro-negro. Aliás, o amor pelo Atlético foi passado pelo meu velho pai, que sempre buscou argumentos para não deixar o time ser desqualificado nos adjetivos dos certames, mesmo sabendo que o futebol tem seus momentos de extrema sofreguidão.

Assim, cresci menino, vendo e vivendo o Atlético, ostentando a aura de ser atleticano, e identificando-se com o tema de uma das bandeiras, levada ao antiquado Pinheirão – Atlético além da morte. Isso é meu lema, não importando o que esteja do outro lado, o Atlético será sempre coração, memória e existência.

Hoje a escola não é mais apenas o lugar onde aprende, sim, no qual também ensino. Vejo milhares de alunos com seus sorrisos e dilemas, muitos cortejando as rodadas, outros com a velha e autêntica graça, meu time é melhor que o teu.

Mas, como o futebol é uma paixão desmedida, não existe nada melhor que mostrar para todos, ser atleticano é acreditar que diferenças, estas tão inerentes à minha pessoa. Esquerda de nascença, sempre tive o coração mais perto das descidas do Carlinhos Sabiá, e inclusive senti uma amargura adulta, naquele coração infantil, ao ver as lágrimas do ponta ao perder o pênalti contra o extinto Pinheiros. Vai ver que por ser canhoto, sempre preferi os gols marcados no gol de entrada da Baixada – por falar nisso, ali vi o Gustavo marcar o gol do título de 2000 e o Alex Mineiro percorrer grande parte da estrada do título brasileiro de 2001. Também não posso esquecer do penal cobrado nas alturas pelo Gabiru na desclassificação da libertadores em 2000.

Cada torcedor é símbolo de um sentimento, alguns tem o amor mais próximo, eu posso dizer que realmente tenho o distintivo do Atlético sempre sobre o coração. Vai ver, os anjos assim quiseram: vai, Bruno! ser atleticano na vida.

sábado, 19 de março de 2011

Zebra



Anteriormente os tempos eram outros, convenhamos, bem diferentes, principalmente nas lotéricas. Talvez uma das maiores transformações na última década foi o cenário de uma casa de apostas, deixando de lado esse posicionamento de jogos cifrários para o caos utilitário do cotidiano.

De cosmopolita em atrair apostadores vislumbrando a conquista dos prêmios milionários e outros, dispostos em apostar no jogo do bicho. Nesses idos as escolhas em leão, vaca, porco, galinha e etc eram normais no Brasil, ao lado da loteria esportiva, que tinha em sua zebrinha simpática a vitória contra a coluna do meio.

O derramamento moderno provocou nas casas de apostas o aspecto das portas do inferno. Esta metáfora é o que sobrou do caos urbano da vida nos centros urbanos.

Conta um senhor aposentado que sua sogra sempre dizia - lotéricas são o caminho para o inferno. Os familiares de outros estados sentem o cheiro da aposta ganha, vizinhos começam a sorrir, exibindo a falta dos molares, alguns, apenas pedem um troquinho para a troca da caixa da água. Sorrindo aos presentes em fila entre correntes amarelas de plástico ele contava as peripécias da finada mãe da sua esposa. Aos passos do aumento das pessoas, tínhamos ali uma extensão de uma sala de estar, mas dessa vez os estranhos pareciam familiares, tamanha era a afinidade em dividir os assuntos.

Não adianta dizer que os filhos de Deus não gostam de jogatina, mesmo quando ela é validada pelo próprio governo, afinal, você conhece algum acertador dos seis números da mega-sena? - perguntava ele para a menina de uns doze anos na fila com o boleto do serviço de internet para pagar. No seu silêncio risório ela não respondia, certamente fora educada para não conversar com estranhos, por mais que a sala de estar tivesse até cafezinho para os clientes. Clientes? Estes são minoria, um único caixa é responsável pelos jogos, outro, para idosos e gestantes, mais dois fecham a matemática do atendimento - estes, podemos dizer é o dantesco para os pagamentos.

Na família nem as rinhas de galo temos mais, contava para o colega dos quarenta minutos de fila. Pela outra ponta uma senhora reclamava da demora. A menina que precisava desviar o olhar dos caixas para não responder o homem com discurso religioso apegado as apostas. Já não adiantava o que os outros pensavam - vocês não sabem atender, não se pode atender tratar bem quem nos trata tão mal, criticava uma cliente.

Como estava no limite do dia para o pagamento da fatura do cartão de crédito e a fila com todos os seus personagens não findava, liguei para minha esposa.

- Quanto é o juro? - perguntei.

- Cartão de crédito é lá no alto das favas, mas ele não vence hoje.

A vergonha de estar a quase uma hora na fila da lotérica enganado era o pior. Disse para a minha esposa que foi uma dúvida que surgiu após ler uma notícia estampada na capa de um jornal na revistaria. Ao vivo para evitar o desperdício das horas, pedi uma raspinha, com sorte ou sem ela, ali poderia estar uma quirerinha extra para o mês.







quinta-feira, 10 de março de 2011

O facebook de cada um de nós


Em um final de feriado distante da realidade escrevo esta crônica. Sanções carnavalescas a parte ou abre-alas apartidários, feliz pela curitibanidade que está impressa na minha identidade, pelo menos nos conceitos do carnaval – no caso curitibano, da ausência dele.

Já na quarta-feira de cinzas que a madrugada revela como autêntica, céu encoberto, chuviscos, todos o prognóstico de um corriqueiro dia cinza em Curitiba. Na imensidão do silêncio vasculho os timbres do teclado, que por certo, não alteram a tranqüilidade da madrugada, pelo menos para os cachorros dos vizinhos, ou ainda, para os que começam nos seus trabalhos ortodoxos a semana pela metade.

A reunião familiar em outros carnavais são as lembranças da festa popular mais brasileira do mundo. Sem saber sambar, nem mesmo o entendimento das notas para as comissões de frente, bateria e samba-enredo etc, tínhamos. Nesta pausa para o carnaval o verso buarquiano – “estou me guardando para quando o carnaval chegar” era nossa porta-bandeira. Os embates com espumas no litoral, as bebedeiras lisérgicas pela madrugada com camisetas pretas de bandas de rock, as filas imensas para poder conseguir comprar pão escutando os trio-elétricos desafinando pela avenida em frente, lembranças suadas de carnavais e heróis. Aos modos do cancioneiro popular, guardamos as violas, separamos as duplas, passamos das comunidades reais para as virtuais.

Após assistir o ótimo filme A Rede Social, posso dizer que a ficção é realmente pior que a realidade. No caso da criação do facebook, uma rede social, que este que vos escreve é adepto, não falta contatos, fotos, vídeos, afinal o mundo está todo ali, virtualmente falando. Longe de querer estabelecer um discurso psicológico, mas todos estes que estão em nossas redes sociais sabem quem somos? Ou são parte do que Mark Zuckerberg criou após uma brincadeira pós-ilusão adolescente e ali estão apenas em números.

Sem esperar por respostas que a tecnologia graças aos serviços da internet proporciona, amigos do perfil ou seguidores do twitter, sigo neste final de feriado, que quase magro, cambaleia pelo decreto da presença de carnavais atrasando o começo do não tão novo ano.

Que os ensejos incas não estejam certos, assim muitas serpentinas e marchinhas podem aparecer pela rua XV de cada um de nós, mesmo que segundos depois esteja uma foto no álbum do facebook.