quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Muito a todos NÓS


Entre as muitas formas de agradecer um ano, fico com a sensação que o melhor agradecimento é o agradecimento ao velho ano, e um novo ano que nos inventaremos. Sim, inventaremos. Uma das maiores virtudes das pessoas é inventar. Seja da maneira que for, estamos sempre a inventar. Inventamos promessas, inventamos planejar um novo ano, inventamos fazer tudo diferente, inventamos um novo ano, sem poder esquecer do velho ano, que na verdade não ainda não pegou sua bengala.
Como alguém que sempre inventa anos (por favor, invenção é inerente ao ser humano) percebo que o ano que finda daqui oito horas foi um bom ano a todos nós.
O Parafraseando Eu é escrito por mim, mas feito por muitas invenções verdadeiras que levo no coração – Hilda, Francisco, Fábio, Karine, Adair, Nilda, Claudino, Glória, Luciano, Jean, Detho, Marlon, Sueli, Maiara, Priscila, amigos, colegas e todas as pessoas que me mostram que as invenções não tem dimensões quando tratadas com o amor.



Um ano se faz com três letras
duas vogais
e um desejo forte de felicidade


para NÓS

todos nós
muitos de nós.



Grande 2009!

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Ao mesmo de todo dia



Quando crianças vemos o mundo com um olhar que visto hoje em dia é uma das formas de invenção do mundo. Em histórias e fábulas da vida real presenciamos um arquétipo de idealização, seja ela no plano experimental, seja no afetivo. No experimental destaca-se nossa vontade de desmascarar a verdade que nos é apresentada, puxar a barba postiça do papai noel é uma das alternativas. Na afetividade através das histórias contadas por nossos pais, avôs e familiares enxergamos uma aproximação do que são pessoas, do que são verdades, e, similiridade entre os dois não encontramos sempre.
Desde que o mundo é mundo para nossos entenderes, fazemos a viagem da descoberta, muitas vezes levados pela influência das pessoas mais próximas de nós e também pelas distantes de nós. Distantes, sim. Um jornal bombardeado de tinta preta, um velho livro de história, um filme épico, um sonho interrompido pelo despertador são exemplos de algumas distâncias que nos modelam a enxergar o mundo.
Com este conceito de mundo caminhamos e percebemos o quanto o mundo está repleto de homens e merdas. Os homens são aqueles que estão sempre a viver no mundo de maneira a não desmantelar o próximo, a não ser que seja com a premissa de estar no caminho certo. Já os merdas são aqueles que se escondem atrás de seus princípios e dissimulados da realidade não fazem questão de confessar: eu estou vivo. Pensando bem, todos os merdas estão incrusto na realidade, nas páginas vivenciadas e não vivenciadas da história. Esta pequena definição de homens e merdas é para ilustrar que o mundo somente é mundo por reconhecer estas diferenças.

Nestas diferenças reconhecemos as diferentes denominações de natal. Neve, calor, frio, chuva. Qual será melhor? Não tenho o intuito de querer responder esta questão, até porque o conceito de melhor sempre anda acompanhado do conceito de pior. Papai noel vai descer pela lareira. Pela churrasqueira. Tudo bem, vai entrar pela porta. Vai trazer presentes, vai rir com um sorriso contente. Vai aparecer na propaganda da coca-cola vai cantar em vários cantos das cidades. Vai fazer muitas crianças felizes!

Quando chegamos à realidade da vida, percebemos que a infância, a festa de natal na idealização de papai Noel é uma invenção da realidade. Pensando bem, a invenção da realidade é um dos sentimentos mais bonitos que podemos ter. Afinal viver sem inventar é se debruçar na esterilidade da realidade, e conformar-se com o belo do tudo. Pouco a pouco as crianças ficam adultas e perdem a idade, mas nunca a essência da infância. É este sentido que nos faz reconhecer as diferenças entre homens e merdas, inclusive acreditamos em um homem, aliás, nem todos acreditam, não importa, ele se importa muito mais com nós, que nós com ele, é a vida.

Quase beijando a ceia de logo mais, o Parafraseando eu deseja a todos um grande Natal, com muitas coisas boas, e se o mundo é feito de coisas boas, desejo muitas coisas boas a todos vocês!


segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Proust errado


- Boa tarde, senhor.
- No que posso ajudá-lo?
Antes mesmo de eu erguer os olhos a dupla indagação já tivera ganhado vida. – Não, somente estou olhando. Entregou-me um cartão com o número 107. – Qualquer coisa entregue o cartão na hora do pagamento. Tudo bem.Comecei a percorrer prateleiras de livros e mais livros com classificações mais variadas possíveis. Vez ou outra percebi que a distribuição não estava tão correta, por exemplo, encontrar um – Em Busca do Tempo Perdido, exposto em prateleiras de literatura inglesa não foi nada sincero, imagino um dialogo entre um cliente e um vendedor:

- Por favor, você poderia me ajudar a encontrar um livro?
- Sim, qual é?
- Em Busca do Tempo Perdido. Ah, sim, somente um momento. Caminha apressadamente até ao catálogo informativo e em desespero volta com a informação. – Nós não temos um exemplar disponível aqui. Um sorriso amarelo e meia vontade de pegá-lo pelo pescoço e dizer, jovenzinho, o livro têm, porém ele está colocado na prateleira da literatura inglesa. E até onde sei o Louvre, Proust e Molière são franceses. Deixo de lado este legado de imaginar muito além daquele misero erro entre tantos livros empilhados lado a lado. Voltei à ficcionalidade da realidade e continue na nau de navegar atrás de um livro. O aroma de uma livraria é único, nem mesmo as fragrâncias mais sublimes do mundo são capazes de transpor o cheiro que as páginas de um livro novo exalam. Embriagado pelos aromas dos mais diversos livros comecei a olhar com uma visão mais periférica do espaço. Percebi que estava cercado por outras 106 pessoas, melhor, 106 efusivas pessoas. Todas com um descontrole apropriado para (re)visitar uma livraria. Sorrisos, abraços, frases altas para comunicar que estavam frente ao um livro. Aquilo foi me despertando para subtrair os pormenores e ir atrás de constatações perenes a nossa realidade social. O MEC divulgou que o índice de leitura no Brasil é de 1,8 livros por pessoa ao ano. Isto significa dizer que grande parte dos brasileiros tem o hábito de ler um livro a cada seis meses, quer dizer, não chegam a terminar um dos dois. Qual seria a alternativa para erradicar este índice? Talvez, este índice tenha razão com as duas principais razões apontadas pelo Ministério da Educação: o alto preço dos livros no país e o desaparelhamento das bibliotecas públicas. De dois contrapontos podemos ajudar a transformar um, as bibliotecas públicas dos municípios. Entre os dois este seria o mais fácil de conseguir atingir. Baixar o preço do livro, que é altíssimo para os padrões salariais da grande massa de brasileiros é uma tarefa que é dependente de impostos. Mas, as editoras poderiam ofertar um número maior de exemplares para abastecer as bibliotecas e principalmente as escolas. Outro passo seria uma divulgação e esclarecimento para a população sobre o empréstimo de obras e contribuiria para levar o país a aumentar o índice de leitura e leitores.
Chegar até este ponto acima não era o principal desta postagem, porém certos caminhos se bifurcam e não tem como sair do emaranhado de sentidos. Senti como voltasse a escutar a atendente novamente a dizer - Qualquer coisa entregue o cartão na hora do pagamento. Continuei a nau da procura de algum livro interessante, mas continuava com a companhia das 106 efusivas pessoas e mais algumas que chegaram ao intervalo que estive recluso a pensar nesta problemática. Acabei por não levar nenhum livro, devolvi à ficha 107 a atendente que neste momento já não tinha mais fichas em suas mãos finas. Sai da livraria e caminhei pelo calçadão da Rua XV, driblando o movimento das pessoas que caminhavam ao contrario dos meus passos. Inquieto e réu confesso com calor, cercado de vitrines decoradas com pompas natalinas, percebi que depois de quase dois anos morando longe de Curitiba, a cidade parece me engolir e depois cuspir no chão em situações como esta, talvez seja a sensação mais aceitável para eu me confortar na minha cidade cinza-pátria. Pensando bem tudo foi culpa do Proust em prateleira errada.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Vertigens, pouco mais



O tempo passa rápido demais. Quando vemos nem tempo temos mais. Mais rápido que o tempo é uma nota comemorativa tocada há mais de cinqüenta anos. Estilo não. Referência sim. Bossa Nova, Tom, Vinicíus, ou seria, Vinicius e Tom? Bem a resposta não se faz precisa quando estamos em 2008 e ainda às canções compostas pelos dois presenteiam nossa sensibilidade, mesmo quando interpretadas por outras vozes. A juventude all star, camiseta básica e jeans está munida de cartões postais, frases e ideologias, por mais que muitos apenas a encontrem na composição de Cazuza e Roberto Frejat.
Aliás, certos versos musicais, ou seriam frases de efeito, são para coroar o momento e maltratar os outros. Não, não é o filme lançado em 2001, em que a bela Nicole Kidman faz papel de uma mãe que não pode expor os filhos à luz solar. Bem, isto, é conversa para quem não viu ir até a locadora, ou quem sabe, baixá-lo e assisti-lo. Voltemos as frases retiradas das músicas, Lobão compôs no frison do rock dos anos 80 – Vida Louca Vida, que tem em um dos versos os seguinte:

“sou manchete popular
Já me cansei de toda essa tolice, babaquice
Dessa eterna falta do que falar” ...

Confesso, prefiro escutar na voz do Cazuza, porém na voz do próprio Lobão ela soa mais rasgada, visceral, não sei ao certo, mas acredito que estou a disparar contra os desafetos. Desafetos? Não, estes apenas existem para políticos, artistas em geral, sou um misero estudante, libertário de horas vagas. Acho belo as propagandas de cigarro, mas como tudo tem um lado ruim, o cigarro mata, aliás, bombas também matam, o mundo mata, mas as propagandas e a censura ainda não atingiram este patamar de falar de quem sabe discorrer sobre isto, não que eles não saibam, ou mesmo queiram omitir. Não há omissão no mundo. Há apenas quando queremos.
O tempo passa rápido demais. Quando percebo já passa de uma da manhã. A garoa fina escurece o asfalto. Daqui a pouco o relógio desperta. Antes disso um certo despertador soa. Não é um galo cantante, mas freadas dos primeiros ônibus que saem apressados para mais um dia, este especial, inicia a semana - segunda-feira.
Com todo o tempo do mundo para escrever. Os olhos cansados baixam. As mãos doloridas avermelham. Os pés tremem. Hoje nem está tão frio quanto ontem, anteontem, semana passada, junho e julho de todos os anos passados. Tempo não tem sobra, quando tem, existe o que fazer. Tanto tempo fez eu acreditar que o mundo é repleto de outros. Mas a preocupação de outros é acessório para muitas vezes liquidar na coleção primavera-verão.
Aliás, coleção que vem carregada de frases vazias, com um único sentido, ser o outro, mesmo que seja apenas de vezemquando.

É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol


É começo de semana, e o resto de tudo.
All star sujo, camiseta básica, jeans
É juventude munida de cartões postais, Orkut e pouquíssimo mais.

Parafraseando eu,

tu,

e eles (outros/os outros)

Antes do amanhecer.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Pão de queijo e afins

[O calcanhar levantado leva o pé um passo a mais sobre um asfalto quente]


O dinheiro para o café ficou esquecido no chão do carro. Além do dinheiro, cartões, documentos e todos os outros acessórios que são importantes para um homem que possua cpf, rg e habilitação de motorista, entre outros. O mais engraçado, que visto pelo outros parecia ser um sorriso com traços cômicos , porém, um disfarce do nervosíssimo instaurado em um começo de segunda-feira.

--- Me veja oito pãezinhos de queijo. Somente isto, senhor? Sim. Obrigado. Tenha um ótimo dia.

Poucos passos e o balcão do caixa estava a sua frente. A mão deslizou pelo bolso e cade? A carteira sumiu. Vulto de preocupação. A atendente sem nada entender, mudou a posição do olhar para o televisor. Época de olimpíadas e parecido com Copa do Mundo, alguns reclamam da excessiva programação esportiva, outros consideram-se entendedores de tudo, inclusive de luta greco-romana e , o terceiro tipo é aquele que vê, mas não entende nada. Gollll! Brasil virou o placar contra a seleção alemã. O locutor rouco, mas muito menos que para narrar o futebol masculino. Ela mascava chicletes e pensava – que saudades da Ana Maria Braga.Ligava em vão, o celular parecia estar desligado. Andou meio metro, olhou pela vidraça e percebeu que onde possivelmente tenha perdido a sua carteira é um local percorrido por uma infinidade de pessoas das mais variadas espécies. Logicamente, todos descendentes do Homo Sapiens. O coração palpitou mais forte, o nervoso afetava as horas. Nunca o passar daqueles poucos minutos foi tão terrivelmente demorado.

---- Desculpe, moça, mas esqueci a carteira. Não tem problema.

Não tem problema? Como não? Madrugo após passar uma madrugada febril. saio cedíssimo de casa, compro exatamente oito pães de queijo e, quando vou pagar, cade a carteira. Situação constrangedora. Após sair da panificadora, percebi que o não tem problema da atendente do balcão foi uma verdadeira gentileza. Aliás, como seria o feminino de gentleman? O caminho era pequeno, mas o fardo era longo. Muitas coisas passavam pela imaginação, todas pautadas com vírgulas e conjunções adversativas. Mas, o the end não poderia ser ali. Após uma certa epopéia consegui conversar com a pessoa que mais poderia me tranqüilizar. E, não é que descubro que a minha carteira foi apenas esquecida no carro de uma amiga. Enfim, sobrevivi, voltei as prosas de viagem e lembrei que algumas pessoas levam a ficção a sério demais. Porém, ficcionalidade somente tem sentido quando desperta o outro. Somente as artes em geral tem esta ambição e intuito. O resto é falácia e galhofa de tempo perdido. Qual importância se o cabelo é azul, o vestido é curto, a hora de acordar é 14 horas, a religião do outro é candomblé, a ausência é saudade, gravidez, sobridade. Tudo isso é parte do mundo e dos conceitos adjetivados. Aliás, qual nota ganha meu texto? Melhor, vale quanto? Algum professor estipule uma nota, por favor! Ainda estou sob influência do ocorrido neste começo de semana, mas nem tudo é uma carteira com muitos documentos esquecida, alguns reais e uma fome de oito pães de queijo.


A semana começa
o filme começa
a peça começa
o trabalho começa
eu recomeço
você recomeça
apenas, recomeçamos.




Parafraseio eu

hoje pela manhã
em um céu com muita cor.


Bruno Scuissiatto

sábado, 9 de agosto de 2008

Essências


[a foto hoje não ilustrou o post]


Caso a foto conseguisse traduzir o amor eu teria a usado




Um agosto chuvoso iniciou-se. Diferente dos passados mais de quarenta dias do inverno, onde apenas o tempo seco solidarizou-se com os dias de céu limpido e transitou com um certo calor a acariciar as roupas leves, vestes aparentemente equivocadas, do ponto de vista do calendário e a subdivisão das estações anuais. E, por escrever sobre agosto, volto ao Parafraseando Eu na véspera da comemoração do dias dos pais.
Tudo começou no começo. E antes do começo já tinha o começo do começo. Círculo vicioso a vida se faz presente e renova-se constantemente. Volto ao ano de 1933, a cidade de Curitiba ainda era um principio de vila que procurava crescer. Em um fraterno lar de madeira no bairro do Seminário, habitava a família Scuissiatto, aquela que mais representa afetivamente este que vós escreve. Não que os outros antepassados sejam menos importantes, mas estes, apenas conheço por fotos, imagens contruidas em minha imaginação e afetividade inerente ao coração. Enquanto os "tutto bonna gente" da casa estilosa de madeira do final da Avenida Sete de Setembro fizeram parte da minha vida, por mais que a brevidade da infância seja irreversível, sinto uma mistura de lembrança, saudade e sentimentos de quem ainda consegue visualizar a casa do meu bisavó – Francisco Scuissiatto, as roseiras das mais vastas cores, totalmente podadas, aquelas flores pequenas rentes ao muro, uma grama verdinha muito bem cuidada, tudo isto, tornava o jardim por mais simpes que fosse bem onarmentado. Ao lado da casa do meu bisavó tinha uma outra casa de madeira, que tinhas as janelas pintadas de branco e uma área com ornamento de flores e folhagens. Esta, era a casa do meu avô paterno. Ali foi construida a gênese familar da família Scuissiatto. O endereço do final da Sete de Setembro tem toda a construção do sentido de família. Ali, meu bisavó fixou residência, criou seus filhos, depois meu avô paterno constituiu família e, assim, voltamos ao discurso do segundo parágrafo. Tudo começou no começo. E antes do começo já tinha o começo do começo.

A prole que me antecede também tem origem no terreno das casas do final da Avenida Sete de Setembro. Meu pai, ou simplesmente Francisco Carlos Scuissiatto, que se assim chamado deve ser conhecido apenas por familiares muito próximos, ou ainda, pelo escriturário do cartório que registrou seu nome. Escrever sobre pai, é muito mais que fazer a junção das letras P+A+I.
Hoje tudo o que conheço de mundo, os sonhos que posso vislumbrar, as estórias que posso contar, somente é possível porque tenho meu pai. Sem dúvida alguma, o amor que tenho e faz eu acreditar tem um sentido na palavra pai. A escrita é nula, o sentimento é nulo, se comparado com o amor que sinto por aquele que sempre esteve ao meu lado e nunca me desestimulou mesmo quando o meu fracasso era real. Francisco Carlos Scuissiatto, ou mesmo Tito, antes de tudo isso, você é meu pai, aliás, do Fábio e da Karine também. A certeza é que eles devem concordar com o mesmo sentimento que sinto. E, talvez apenas não concordem com as minhas palavras um pouco históricas demais.
E volto ao circulo vicioso – antes do começo já tinha o começo do começo e assim, o verdadeiro dia dos pais, comemora-se amanhã, mas o sentimento é diário, mensal, anual e eternizado nos sentimentos mais verdadeiros que possam existir. Parabéns aos pais, em especial ao meu e ao pai do meu.

Sintam-se abraçados e beijados meus queridos.

Parafrasear eu é aquilo que somente faço por herdar do meu pai a astúcia dos folhetins de jornal, a vontade de sempre trocar palavras, seja com quem seja. Aprender nunca causa asco, apenas quando sabemos diferenciar o que é um bom time de futebol, é o nosso, está complicado. Aliás, futebol, aquilo que Nelson Rodrigues disse – das coisas menos importantes é a mais importante, também herdei do meu velho pai, mas isto, é história para outra estação.

Agosto apenas inicia.



Bruno Scuissiatto.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Palavras no intervalo do inverno errado


[entre tantas opções para onde o inverno foi? Curitiba/PR]




Curitiba, 03:23, 15 graus, sensação térmica superior a expectativa de inverno propícia a capital paranaense. Visto o mês de julho, depois de muito tempo sem escrever, apenas visitei outros escritos, outras películas, livros antigos, outros antigos recém adquiridos, e novos com aroma que somente as páginas nunca visitadas podem deterem. As férias assassinaram o inverno, desconhecia uma estação que sempre tão glamorosa permitiu-se se perder para os dias azuis e calorentos.

Lembro da Curitiba de inverno prazeroso, cinza com tonalidade londrina, dos casacos e cachecois desfilantes do centro, nos encontros das Marechais, ou das luvas que seguram os canecos de chopp nos bares do Largo da Ordem. À noite sempre se podia esconder entre os cobertores e aquecer o sentimento com filmes e músicas herdadas dos seus pais, uma boa pedida sempre era escutar Beatles e gritar bem alto - Help! E, o centro tinha as meninas, os traços sempre vistos na literatura de Dalton Trevisan, o Passeio Público não tinha viatura de polícia, nem as ruas laterais eram rodeadas de árvores que a noite se transformam em fantasmas além daqueles que mostram uma outra cidade. Curitiba cresceu, o "e" com este som muitas vezes é dilacerado com outros tons, isto não é errado, mas é retirante da essência do verdadeiro sotaque leite quente.


03:43, a canção oitentista diz - acordei com seu rosto e a lembrança do seu gosto, será que o contragosto da madrugada vive escondido em busca de retrato? Quando os retratos são escurecidos, melhor forma é não convencer a saudade que tudo vai passar até a Copa do Mundo. A forma como o mundo enxerga o amor é alterada sempre sem aviso prévio, sem muitas explicações, o vento enverga a porta e deixamos extravasar o sentimento que fala e escondem você. Sem mais vamos nesta eterna mudança de viver em cada canto, como todos fossem nossas casas.


03:54 - Mas, tão jovens? Fossem velhos não teriam corajem para mudar depressa, mas também não teriam motivos suficientes para acreditar que as coisas e as verdades sozinhas não conseguem entender muito bem o que sentimos, escrevemos, ou fingimos estar tudo bem.



A sensação térmica caiu um pouco, ainda é bem diferente daquela que me obrigava a vestir duas calças, estar todo engessado e escutar a minha adolescência espernear contra a friagem demasiada da madrugada. Lembranças de dias que não voltam mais.



Curitiba, 04:01, 15 graus (desconfio ser menos) - entre canções de velhas melodias e novas sensações escrevi um pequeno resquício daquilo que estava desatualizado, não que à partir desta vírgula de poucas palavras atrás não esteja mais.


Não é julho de 83, mas lembro do mês.
Scuissiatto.


segunda-feira, 9 de junho de 2008

Insonia programada





O espirro invadiu o sentido e aliado a alguns latidos esquecidos
pertubou o sonho que começara aparecer
no contorno bonus do descanso deste começo de semana.

A insonia reclamante pediu calmante
e obrigou-se a estar aqui
na volta do relógio a marcar três horas.

Ainda não escutou barulho dos carros apressados
muito menos respirou poluição com coloração eminente dos dias nublados.

Deitado sente os pés encostaram o chão
a gélida madrugada encontra-se procupada
com a alma aniquilada deste principio de noite clara.

Aberta a porta do quarto não diz nada
o silêncio esconde retratos e medos conglomerados
nesta eterna vontade de emudecer.

A semana começa na indiferença do espelho responder
aquilo que realmente vê.

Alteraram a paisagem
Compraram a sorte
Coloriram o amanhecer.

Mas, não roubaram o inverno de você.


Parafraseando a madrugada, antes do dia amanhecer.




Bruno.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

O lado inverso da conversa


As lâmpadas fraquejaram nas últimas noites. Tudo foi engano desastroso da solidariedade. Quando a rua apressada apresenta barulhos de carros desesperados, melhor fechar a cortina e ir dormir.
Depois de voltar não precisei mais encontrar, aliás, cansado de procurar inventei canção de ninar. A noite nem fria foi mais, mas mais clara e com estrelas sensíveis puseram-se a olhar atordoadas sem a preocupação de procurar explicar o que acontece, como acontece e quando realmente acontece.
Estranhamente a validade dos sorrisos parecem grafadas de singularidades regulamentadas. Os excêntricos românticos discursam encantados com a afirmação de escutarem lembranças em sorrisos plastificados. Estranhos eles não sentem falta da saudade, porém em silencio vilipendiam ensaios da realidade. Vazios de clarezas o dia nasce e morre com medo. Espaçados na cidade os românticos sempre remetam as lembranças em outros substratos. Perdem-se nas distancias dos feriados prolongados, com afonia ao telefone.
Em feriados percebemos o quanto à vida se faz necessária e desnecessária. Onde começamos, onde morremos, onde nascemos. Situações óbvias, mas precisamente desprezada por nossos compromissos muitas vezes fetiches de crepúsculo dominical.
As canções escrevem trajetórias perceptíveis ao enredo de cada história, mas sempre chega um romântico e pratica o pedestal da solidariedade afetiva.
E, quando a semana começa deste jeito é melhor começar a esquecer o cheiro do perfumado estagnado da estação que parece nunca findar.
A água gélida desce a garganta com o valor da boca exposta na verdade de não inventar nada.
O desengano concentrado mostrou o quanto as lâmpadas tremem ao perceberem que vozes mudas podem serem úteis.
Hoje não vou me permitir esquecer nada, nem mesmo seu discurso todo decorado.




Sem romanstismo decorado os encontro no mês de junho e com mais um Parafraseandoeu.

















terça-feira, 6 de maio de 2008

Epifanias silenciadas



Na falta de tempo, invento um parágrafo, grafado em cor mal definida, para escandalizar a noite e adjetivar a semana. Não parafraseio liricamente apenas, mas também sopro as linhas para os horizontes vistos, revistos e escondidos da cidade. Ali, está frio, aqui não é Berlim, pouco se resumiu. O vento gélido definiu: Um passo a mais, e a história vai terminar, quando? Não engane-se, nada termina, pelo menos nas vistas escandalizadas do sentimento, que não é alquimista.
O profano do sentimento é julgar sempre ser o melhor, quando deveria se preocupar em descobrir a desconhecida vida, que insistimos conhecer. Oi, você faz isso também? Não, apenas respondo com um doce amém. Sabes que a cortesia deveria ser usada para certos momentos da apresentação do mundo sem graça. Aliás, mundo sem graça é acordar as nove, olhar para o lado da cama e descobrir que os chinelos sumiram. Hilário, sentir sentimentos de certa forma banais nestes momentos. Até gosto de dormir de meias, você não? Olha, sinceramente, vou praticar galhofas com os discursos parlamentares, cansei desta conversa de noite fria, aliás, você gosta do inverno? Do inverno sim, mas deste frio de outono não! É, concordo com você, mas continuo a pensar mal sobre o uso de meias para dormir. Então, vamos conversar? Não posso, conversas certas vezes exigem dedicação, e isto, é contramão do futuro, pois o presente exige contrato, alusivo e placa condecorativa. Nossa, você sempre é assim, ocupado, despretensioso com as palavras? Eu? Sim, você mesmo, não tente bancar o desinformado. Mas, não sou desinformado, talvez um tanto introvertido, mas como disse Mario Quintana, estão sempre a nos sujeitar a certas condições, será que precisamos ser chatos como os outros? Olha, você acha eu chato? Tenho certeza! E, sem precisar analisar muito. Sabe, vou embora, vou cuidar das minhas costas doloridas, e suportar o afago dos livros. Confesso que nos útimos dias, neste frio miserável, tranco a porta, escorraço a persiana e me apego a dividir a cama com os livros. Mas, a sofreguidão de certas páginas, me fazem teletransportar para um outro mundo, outras ruas. Estranhamente neste mundo, você é meu melhor amigo. Não imagine isso uma atitude piegas, não que não seja, mas acredite, você é meu melhor amigo. Tudo bem, eu sei, antes de você perceber, vou explicar, chorar faz bem, lubrifica a alma. E, olhe, quando puder, apareça, vamos esquecer do mundo, disfarçar a verdade e definir a liberdade. Uma última coisa, eu sou apenas eu, mas quando estou com você, sou muito mais próximo de ser alguém. Ah, na esquina tem gente esperando o futuro...




O livro fechou a palavra, perdeu-se na esquina, casou com a menina, viajou pelo perigo, correu para o abrigo, viasualizou o suicida, ouviu um grito, aconselhou o silêncio e continua distribuindo cartões de visita.
- Na esquina da rua da Vergonha, número 100.









sexta-feira, 11 de abril de 2008

O avesso da razão.





Ultimamente o rastro de fragrâncias tem depositado seu valor imoral sobre o lado mais frio das cobertas. Perdido em silêncio, perturbado por ruídos da rua, onde um, ou mais meninos conseguem extravasar suas desventuras premiadas pelo sacrifício de conviver e tentar não ser notado nas ruas bem iluminadas da cidade. Nas ultimas noites nem os galos tem cantado mais, a televisão reprisa cenas passadas em outras estações, nada parece ter gosto, o pouco que ainda atrai, esta na agonia de escutar uma bela canção, mas não significa muito, aonde esta você para escutar, todas as frases e os enganos penitentes da noite. A boca seca não profere nenhuma palavra, apenas sensibiliza-se pelos pensamentos nada cometidos de vontades próprias. As escuras refaço caminhos um dia feitos com felicidade, mas ao mesmo tempo vem a realidade e retoma que toda a verdade, agora não é nada mais, talvez um pouco do que sobrou da realidade, afugentada de sonhos, delírios e barras brancas de neve. Talvez, não devesse, mas existe uma força interior, um grito anestesiado, que não pode hibernar, quando a chance de viver e conseguir ser mais e feliz seja escrever, como fiz naquela madrugada de final de março.



5:17, os galos desalmados de cantos desafinados insistem em cantarolar, aquela sinfonia repetida, que anuncia um novo dia. Entre uma mala de viagem, suja dos chãos de rodoviárias, um som desligado e estragado, lembranças brancas e nuas chegam até meu coração leve e fadado a não esquecer. Confesso, nos últimos dias fui um ator dissimulado, um profissional em fabricar angustias. Não diga nada! Não diga, esta madrugada é minha vez de escrever. É tão belo admirar este teu silencio, piedoso de bondade. O mundo todo dorme, alguns não dormem, mas acompanhados dos seus caprichos seguem noite a dentro com todo o sorriso estampado em seus largos rostos. Vou contar, não ria, talvez seja simples, ou quem sabe, ridículo. O ridículo tantas vezes é o lado belo da vida, somente no ridículo das atitudes, estão as chances de conseguir encontrar um sorriso emoldurado. Hoje comi um alpino, vagarosamente o deixei sacolejar em minha boca, percorrendo todas as camadas da boca, inclusive preenchendo os espaços da língua. Pouco a pouco pus-me a imaginar uma criança que conta os segundos para olhar pelo vidro embaçado e escrever seu nome, será que todas as vezes ele usará as mesmas letras? Pouco sabemos, talvez o vidro embaçado, desapareça, assim como as flores e a primavera muitas vezes são apenas folhas e uma estação no calendário. Porém, a embalagem do alpino resiste aos embalos do meu bolso, e consegue mostrar lembranças brancas e doces de momentos em que estive feliz em minha vida. O grito não vai passar a janela do quarto, nem atravessar as portas internas do apartamento, mas preciso que você leia, sinta, descubra, perceba o significado que tens em meus momentos em que não sou somente solidão.

Talvez tudo. Talvez a minha angustia. Talvez um passado cantante com toda a força um manifesto para o futuro.
Ainda não é 5:30, meus pés estão gelados, meus braços finos desacompanhados, mas as lembranças insistem em desviar todos os obstáculos criados por este ser repleto de caprichos, que prefere ir dormir, antes do dia nascer. Vou sonhar, mas não vou chorar, aliás, patético demais chorar pelo vácuo de alguém que ama demais.
Os galos desalmados de cantos desafinados emudeceram. Os sentimentos ganharam novas cores e contornos, a madrugada em Curitiba é sempre mais longa e teimosa.


As madrugadas passaram, pouco mudou, mas o pouco que mudou, é suficiente para eu escovar os dentes com mais felicidade. A cidade não parou, o inverno ainda não maltratou as costas calejadas, o silêncio é vitrine da respiração vilependiada, o resto do que sobrou do último punhado da tempestade, ainda condecora as avenidas mais sofridas da cidade.
O dia mudou na últimas 24 horas, um sorriso carregado de sonhos doces encontrou, sentiu seus olhos vibrarem, seu coração pulsar, como estivesse na frente de uma orquestra que celebra os sonhos e desventuras de Mozart em plena noite de céu limpo, antes da chuva chegar e acalantar aquele momento para sempre. Viver normalmente é adormecer com as incertezas e acordar com as surpresas belas de esparadrapos que ajudam a curar um coração.

Depois da chuva, vem a febre, e os delírios dos sonhos renascidos.



segunda-feira, 24 de março de 2008

A vida de cada dia

[imagem exibida no museu da língua portuguesa/SP]


Longe de casa os momentos tem sempre um peso e um valor bem diferente e muitas vezes indiferente de ser. Talvez o mais belo e necessário seja o silêncio. Um quarto silencioso, acompanhado apenas pela respiração sem gerar peso para o ar é tantas vezes um martírio sem fim. Outras vezes o silêncio é aquilo que mais precisamos para conseguir distrair nossos fantasmas, inibir nossos receios, e tumultuar os sentimentos avulsos.
Na distancia de casa, revisto as fotografias antigas da recordação, perco minutos debruçados na janela, com o peito exposto na leve à fina garoa que molha o asfalto, e entre um carro e outro espirra água sobre as calçadas ainda não ocupadas por pedestres apressados. Gosto mesmo é de olhar os pingos da chuva em contraste com a força da lâmpada dos postes da rua, nestes momentos percebo o quanto é necessário voltar à infância e lembrar das aquarelas e desenhos de raios solares em cadernos com intervalos de folhas de papel manteiga.
Entre lembranças, devaneios, trabalho, sonhos, liberdades e contrastes, encontro medidas para sonhar. Aliás, sonhar é a palavra que mais alimenta quando estou com fome.
A minha fome foi visceralmente consumida por espetáculos teatrais presenciados neste feriado em casa.
O sentimentalismo social colocou-se a prova, entre as falas, luzes, cenários e aplausos finais, sentia sempre que após o ato final de cada peça assistida, algo mudava em mim. Talvez, eu mudasse com o mundo, talvez, o mundo mudasse comigo.
O teatro tem a química de fabricar verdades inventadas, nos mostra o ridículo e todas as faces de uma sociedade, tantas vezes reduzida a um único personagem, ou distribuídas a todo um elenco. Personagens fechados em seu quarto, fatigados dos sofrimentos da vida, outros existencialistas de ascos sociais. As poucas, mas essenciais peças literalmente devoradas neste feriado em casa são o que faltava para eu me convencer que o teatro é a vida, mas a vida não é o teatro. Os espetáculos findam, porém a metamorfose interior ainda abala muitos silêncios tristes.
A semana começa com todo o gás. Vamos lá impulsionar mais uns sopros indispensáveis de sonhos.

sábado, 8 de março de 2008

As canções que costumo ouvir

[vista parcial do centro de Ponta Grossa]


















Não quero usar sentimentos covardes que ludribriem o amor.
Deixo os dedos desenharem em tom de brincadeira o formato de um coração que luta e reluta por vivem no eterno tormento com a velocidade do depois.

A cidade reaparece e apresenta outras faces do depois.















segunda-feira, 3 de março de 2008

Sem feriados de eu mesmo



O dia não é mais noite
noite não é mais dia
o pleonasmo não é defeito
pertencente ao lado mais rarefeito

a atriz não pediu um beijo
o silêncio despiu desejo

carros com meia luz desreguladas
avançam ao lado
dos pedestres aglomerados.

o vento gesticula
tripudia o silêncio
incomoda os dormentes
soltos fios de energia elétrica
saltitantes dos postes inconseqüentes.

o teto do quarto
certas ocasiões
é chão.

virado ao contrário
muda o cenário
dizima os passos
encarece o espetáculo

As férias findaram
desejos por você
escorrem pelas paredes
em retratos 5x7
com o silêncio do quarto
a chuva na sacada
o silêncio alcançado

na velocidade
das canções mais sinceras
sorrisos maternos

enfim, o ano realmente (re)começou
sem a referencia distância do feriado
silencioso de eu mesmo.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Carnaval sem igual





Carnaval. Tentei em vão passar escrever neste carnaval, sobre o próprio carnaval, mas a inércia do ócio foi mais forte. Carnaval é sinfonia silenciosa dentro de mim. Não sei ao certo, mas desde que me conheço por gente, nunca fui muito ligado a festa mais popular brasileira. Talvez o sombrio tempo de Curitiba, onde as nuvens ficam estacionadas, e não permitem muito o sol a figurar entre os curitibocas.
A temperatura amena, o frio de fevereiro, a falta de desejo, tudo faz sentido para o carnaval não vingar. A quem não gosta de carnaval, mas admira o feriado, fica o convite, venha para a cidade onde o carnaval foi assassinado.
O Parafraseando Eu desta semana, não quer enfatizar, ou fazer um raio x do carnaval, até porque, este que vos fala, gosta de samba, sim, samba, mas um samba sentimental de Cartola e Noel Rosa, de resto, prefiro ritmos mais distorcidos, dedilhados em acordes menores no violão e no dançante rock inglês. E, por falar em música, estilo e procedentes, na semana passada tive a oportunidade de acompanhar um show de uma das bandas mais importantes do cenário independente nacional, sem ufanismo algum, os curitibanos da Poléxia, são o que há de mais belo na música atual. Músicas como : Eu te amo, porra, Caloando Estrelas, Violetas na janela, são algumas das letras construídas com letras belas, melodias suaves, acompanhadas de uma sonoridade gostosa de ouvir-se. São músicas que você não cansa de escutar. De bate pronto, tive a oportunidade de neste mesmo show, conversar com o John Ulhoa, guitarrista do Pato Fu, foi uma sensação estranha no começo, sabe, aquele cara que faz letras e participa de uma banda que você escuta desde de gurizinho, então, ficar frente a frente com ele não foi nada fácil. Até chegar a este ponto, precisei ver muitos cd´s e capas de livros dentro da FNAC. Foi a demonstração ensandecida do velho espírito do introvertido. No final das contas fiquei muito feliz, além deste bate papo com o John, também arrematei um cd dos poléxios, por apenas 5 reales. Quem quer escutar música de qualidade, procure a cena musical alternativa brasileira, nunca tivemos tantas bandas boas ao mesmo tempo espalhadas pelo Brasil.
A vida de quem vive no mundo das letras é desgastante, mas isso normalmente todos os mundos profissionais são. Porém, no mundo das letras, a gente escreve para exorcizar os medos, para conflitar os gostos, revelar os amores e interpretar as cenas. O que é mais é gratificante nesta vida de insistentemente escrever é conhecer, ganhar novos amigos, pessoas, que atraem-se por amores idênticos.
Em uma semana fui agraciado com um zine – Musas, feito por quatro amigas do mundo das letras, que começam a fazer um trabalho importante dentro da cultura da escrita brasileira, a publicação de um zine escrito. É um trabalho artístico muito bonito, é tudo apurado dentro de um amor, que torna tudo ali colocado, como uma simplicidade bela. Vida longa meninas, que esta seja a primeira de muitas edições. Contem com a minha soma sempre. Outro acontecimento derivado do amor, das circunstancias da escrita, foi a entrevista com o Zeca Maranhão, que falou sobre literatura em geral, especialmente sobre seu livro Viúva Negra. Muitíssimo obrigado pela dedicatória e livro Zeca. Além disso, tem outras pessoas, mas estas, deixo para próxima.
O mundo é imenso, não esperemos que a arte nos encontre, vamos produzir arte, em todo lugar tem alguém fazendo algo bonito e honesto, especialmente no mundo das letras, eu graças, conheço vários produtores desta arte, que acompanhada da vida é essencial.


Seja onde for o que importa é o amor
Seja você deixa chover
Olha pro céu olha pro céu e se esqueça

[Caloando estrelas] Poléxia www.myspace.com/thepolexia

Até o próximo Parafraseando Eu.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Cinema na madrugada, não é filme.


Madrugada entre os batimentos incessantes do ponteiro do relógio, bagunça e desorganização, e uma incontrolável contestação, de qual finalidade tem a madrugada para associar além de sabores, também odores que transmitam idéias, pensamentos e todos os talentos exagerados em ser.
O hábito de terminar o dia, enquanto daqui a pouco, grande parte da cidade começa aparecer. Meu padecimento com a madrugada é ultrapassado, não existe mais solução, senão estender a mão e cumprimenta-la toda vez que começo a padecer.
Confesso, viver na madrugada é prazeroso, algumas vezes latidos estridentes ecoam, mas na maioria das madrugadas, acompanho a velocidade dos sonhos. É tão gentil e amável interpretar palavras soluçadas e contornadas por doces sinfonias. A madrugada é assim, silêncio sem fim dentro de mim. O Parafraseio eu desta semana é especial, é o primeiro após a comemoração do meu aniversário. Ainda não sinto o peso do mundo, a nova idade ainda não atrapalha, ou beneficia. Não fiquei recluso do espelho, ultimamente tenho olhado o avesso do espelho, isso é tão blasé, melhor fazer de conta e esquecer.
O silêncio interior proporciona um olhar atento e perdido neste pedaço de casa, onde, normalmente encontro-me com a minha vida. Complicado é não perceber que na minha cama, dormem muitas folhas, livros, calendário, agenda e, roupas amassadas. Em meio a esta confusão, achei minha Clarice, oras, hoje tenho o direito de escrever, afinal, não é todo dia que reencontramos um Perto do Coração Selvagem. “Uma das coisas que mais me incomodam é o fato das pessoas acharem que sou um mito. Isso prejudica muito a aproximação das pessoas que poderiam preencher o vazio da minha vida. (frase de 1969). Ao deparar-me com este comentário não posso esquecer o vazio natural e egocêntrico de um escritor com sua produção. Muitas vezes a solidão não é defeito para a prática do exercício da obra, mas acaba incompreendida quando distante desta obra. A atmosfera dos escritores, não está em sintonia com o resto do mundo. Escrever é machucar as mãos com idéias vilipendiadas, varar a madrugada, perturbar a alma, e saber, que após pronta, os machucados são curados, a idéias deixam de serem simples idéias e, a perturbação da alma, transforma-se um lindo acalanto de flores brancas.
A história precisa ser contada sempre, capítulos a deixam com contorno de quero mais. Sempre que madrugada finda, fica o gosto que outro dia logo vem, por mais que os ponteiros do relógio, já tenham definido isso.
Distante deste universo acima constituído fica uma tela de cinema é um filme nacional interessante. Meu Nome Não é Jhonny, é mais um dos filmes, adaptados de um livro, porém desta vez, fica a sensação de uma obra cinematográfica concisa. Afinal a história não conta nada sobre algum herói, ou um romance romântico, ela narra à saga de João Guilherme Estrella, um carioca, que durante a década de 80, foi um dos algozes do trafico no Rio de Janeiro. O que mais chama atenção é a falta de violência, sangue, tudo aquilo que estamos acostumados a assistirmos no Brasil, quando tratamos de filmes nacionais, como os excelentes Cidade de Deus e Tropa de Elite. A fotografia do filme não é das melhores, porém no resto, o filme é muito bom, o diretor Mauro Lima conseguiu no geral uma ótima produção. Além do filme, outro atrativo é a interpretação majestosa do Selton Mello, este, um dos atores que honram a profissão com talento. Ainda em cinema, não me surpreendeu a não escolha para disputar o Oscar do “O Ano que meus pais saíram de casa”, do diretor Cão Hamburger, dificilmente a academia seleciona filmes latinos americanos, e este filme, não é tão bom no sentido de visibilidade para concorrer ao Oscar. Para quem não o assistiu, fica o convite pelo último trabalho do saudoso Paulo Autran na televisão. Anos atrás seria loucura comentar sobre o cinema nacional, mas hoje, mesmo ainda longe do ideal, no sentido de respeito aos roteiristas e cineastas, a produção tupiniquim já tem produções para se orgulhar. Dia após dia chegaremos lá.


A madrugada não sorriu, esqueceu dos seus vícios, e já caminha para aparecer sozinha.

Scuisiatto

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Meu aniversário


A proximidade com o aniversário sempre é casual e atemporal ao mesmo tempo, pelo menos quando o aniversariante sou eu. As casualidades são do tempo sempre tecer sobre a linha dos meus pensamentos questionamentos e afastamentos de atitudes e sensações que não poderiam faltar, e as fatias atemporais são constituídas ao longo de todos os outros aniversários, que sempre deixam cicratizes nada inocentes.
Parafraseando Nando Reis:

Eu não posso entender
Essa vida tão injusta
Não vou fingir que já parou de doer
Mas um dia isso vai acabar ...

Eu não preciso entender, a vida é injusta, mas sempre encontro alentos para disfarçar a tristeza das injustiças e seguir sempre adiante. O dia que acabar, não precisarei mais pensar, e isso não quero nem lembrar.

Eu não consigo me convencer
Que essa vida não foi injusta
Tanta falta faz você
Queria você em casa

Sempre que não consigo me convencer, procuro inventar, reinventar uma maneira de despistar tudo aquilo que não é justo. A falta que faz você, faz sentir falta de si mesmo, sentir falta de você, de si mesmo, pode ser defeito. Em casa, na rua, no estádio, na praia, no verbo, no predicado, sempre é dia de aniversário.

Mãe
O amor que tenho por você é seu
Mãe
O amor que tenho por você é seu
Como é meu aniversário

Mãe você é responsável por meu aniversário, mãe eu não caso, mãe hoje é meu aniversário, mãe o meu amor além do sempre é apenas teu.

17 de agosto de 1935
12 de janeiro de 1963
19 de junho de 1989
Eu já não tenho 29


6 de fevereiro de 1957
17 de julho de 1957
18 de janeiro de 1981
Eu já não tenho 26

Mas continuo o mesmo.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Inventar para sonhar



El Amor en los tiempos del cólera, lançado originamente em 1985.

Janeiro, mês em que as nuvens desenham seus doces uniformes, e nós as condecoramos com nossa inquietude juvenil em tentar satisfazer as vontades e inventar. Inventamos até leituras de velhas crônicas, cartas marcadas de anos passados, e filmes vestidos de sonhos doces, mesclados com chocolates amolecidos da realidade. Na falta do que fazer, não inventei a realidade, a faço, com alguns dias de atraso.
O movimento interessante e importante deste começo de ano é sucessão presidencial nos Estados Unidos, após uma era Bush, finalmente parece que teremos o fim da hegemonia dos ataques, atrocidades e intolerâncias políticas. Talvez o fantasma do Bin Laden desapareça, ou passeie pela Califórnia em um futuro próximo com o senhor George. E a Copa do Mundo de 2014 no Brasil, até lá, muita coisa vai acontecer, mas certamente teremos também educação gratuita e de qualidade, como nos slogans das universidades públicas, hospitais com atendimento descente e segurança pública digna para mostrar ao mundo que o Brasil não é somente futebol. Parece até roteiro de cinema, um país lindo, com qualidade nos serviços para a população e ainda com o principal espetáculo esportivo do mundo por aqui, somente o Brasil para nos propiciar isto. Lembrei, este ano temos eleições municipais, boa pedida para logo começarem as disputas de candidatos, que caso fossem criações, tranquilamente poderiam contracenar com a Narizinho, o Visconde de Sabugosa, a Emília e o Saci, mas, infelizmente por motivos óbvios, não podem e nem devem. Janeiro mal começou, e o vicio cinéfilo aumentou a vantagem, sobre notas musicais, textos, resenhas, e outros afazeres, fica a pergunta – qual a finalidade de retirar dos cinemas o filme nacional. “Meu nome não é Jhonny”, seria uma decepção com a bilheteria? Ou um conformismo em mostrar o lado estrangeiro de fazer cinema? Hoje acredito que foi apenas uma maneira de apresentar a pré-estréia, e deixar com sentimento de quero mais, nos dias que antecedem o lançamento oficial do filme. Enfim, nas locadoras, encontra-se o “O Último Rei da Escócia (The Last King of Scotland), o filme trata da ditadura de Idi Amin em Uganda, muitíssimo bom, ainda de brinde, ganha-se a chance de assistir o ganhador do Oscar como melhor ator em 2007, Forest Whitaker como o ditador uganense. Sabiamente sabemos que as adaptações de livros para produções cinematográficas normalmente não agradam tanto, afinal na páginas dos livros temos várias janelas para enxergarmos o mundo, e na telas, somos induzidos a olhar uma única. Esta é a sensação ao assistir O Amor nos Tempos do Cólera (Love in the Time of Cholera), filme baseado no romance belíssimo de Gabriel García Márquez. O grande pecado da produção foi não produzir o filme em espanhol, optou pelo inglês, e acabou por maquiar demais a obra, chega a ser cômico, ver a reprodução das ruas de Bogotá e o inglês falado, fica um sentimento de falta algo. Não é verso de refrão, mas janeiro nem bem começou e já tenho tanto para falar. Hoje não parafrasiei muito, até porque ultimamente parafrasear eu, está difícil, inconstante e ultrapassado, passei da margem do entendimento, para perceber o que sinto das páginas não lidas, das perguntas respondidas e do silêncio da casa.

Ano novo, vida não tão nova, gosto de estação repetida, e até o momento concordo plenamente com o Marcelo Rubens Paiva - Feliz Ano Velho.

Bruno Scuissiatto