sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Cinema na madrugada, não é filme.


Madrugada entre os batimentos incessantes do ponteiro do relógio, bagunça e desorganização, e uma incontrolável contestação, de qual finalidade tem a madrugada para associar além de sabores, também odores que transmitam idéias, pensamentos e todos os talentos exagerados em ser.
O hábito de terminar o dia, enquanto daqui a pouco, grande parte da cidade começa aparecer. Meu padecimento com a madrugada é ultrapassado, não existe mais solução, senão estender a mão e cumprimenta-la toda vez que começo a padecer.
Confesso, viver na madrugada é prazeroso, algumas vezes latidos estridentes ecoam, mas na maioria das madrugadas, acompanho a velocidade dos sonhos. É tão gentil e amável interpretar palavras soluçadas e contornadas por doces sinfonias. A madrugada é assim, silêncio sem fim dentro de mim. O Parafraseio eu desta semana é especial, é o primeiro após a comemoração do meu aniversário. Ainda não sinto o peso do mundo, a nova idade ainda não atrapalha, ou beneficia. Não fiquei recluso do espelho, ultimamente tenho olhado o avesso do espelho, isso é tão blasé, melhor fazer de conta e esquecer.
O silêncio interior proporciona um olhar atento e perdido neste pedaço de casa, onde, normalmente encontro-me com a minha vida. Complicado é não perceber que na minha cama, dormem muitas folhas, livros, calendário, agenda e, roupas amassadas. Em meio a esta confusão, achei minha Clarice, oras, hoje tenho o direito de escrever, afinal, não é todo dia que reencontramos um Perto do Coração Selvagem. “Uma das coisas que mais me incomodam é o fato das pessoas acharem que sou um mito. Isso prejudica muito a aproximação das pessoas que poderiam preencher o vazio da minha vida. (frase de 1969). Ao deparar-me com este comentário não posso esquecer o vazio natural e egocêntrico de um escritor com sua produção. Muitas vezes a solidão não é defeito para a prática do exercício da obra, mas acaba incompreendida quando distante desta obra. A atmosfera dos escritores, não está em sintonia com o resto do mundo. Escrever é machucar as mãos com idéias vilipendiadas, varar a madrugada, perturbar a alma, e saber, que após pronta, os machucados são curados, a idéias deixam de serem simples idéias e, a perturbação da alma, transforma-se um lindo acalanto de flores brancas.
A história precisa ser contada sempre, capítulos a deixam com contorno de quero mais. Sempre que madrugada finda, fica o gosto que outro dia logo vem, por mais que os ponteiros do relógio, já tenham definido isso.
Distante deste universo acima constituído fica uma tela de cinema é um filme nacional interessante. Meu Nome Não é Jhonny, é mais um dos filmes, adaptados de um livro, porém desta vez, fica a sensação de uma obra cinematográfica concisa. Afinal a história não conta nada sobre algum herói, ou um romance romântico, ela narra à saga de João Guilherme Estrella, um carioca, que durante a década de 80, foi um dos algozes do trafico no Rio de Janeiro. O que mais chama atenção é a falta de violência, sangue, tudo aquilo que estamos acostumados a assistirmos no Brasil, quando tratamos de filmes nacionais, como os excelentes Cidade de Deus e Tropa de Elite. A fotografia do filme não é das melhores, porém no resto, o filme é muito bom, o diretor Mauro Lima conseguiu no geral uma ótima produção. Além do filme, outro atrativo é a interpretação majestosa do Selton Mello, este, um dos atores que honram a profissão com talento. Ainda em cinema, não me surpreendeu a não escolha para disputar o Oscar do “O Ano que meus pais saíram de casa”, do diretor Cão Hamburger, dificilmente a academia seleciona filmes latinos americanos, e este filme, não é tão bom no sentido de visibilidade para concorrer ao Oscar. Para quem não o assistiu, fica o convite pelo último trabalho do saudoso Paulo Autran na televisão. Anos atrás seria loucura comentar sobre o cinema nacional, mas hoje, mesmo ainda longe do ideal, no sentido de respeito aos roteiristas e cineastas, a produção tupiniquim já tem produções para se orgulhar. Dia após dia chegaremos lá.


A madrugada não sorriu, esqueceu dos seus vícios, e já caminha para aparecer sozinha.

Scuisiatto

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Meu aniversário


A proximidade com o aniversário sempre é casual e atemporal ao mesmo tempo, pelo menos quando o aniversariante sou eu. As casualidades são do tempo sempre tecer sobre a linha dos meus pensamentos questionamentos e afastamentos de atitudes e sensações que não poderiam faltar, e as fatias atemporais são constituídas ao longo de todos os outros aniversários, que sempre deixam cicratizes nada inocentes.
Parafraseando Nando Reis:

Eu não posso entender
Essa vida tão injusta
Não vou fingir que já parou de doer
Mas um dia isso vai acabar ...

Eu não preciso entender, a vida é injusta, mas sempre encontro alentos para disfarçar a tristeza das injustiças e seguir sempre adiante. O dia que acabar, não precisarei mais pensar, e isso não quero nem lembrar.

Eu não consigo me convencer
Que essa vida não foi injusta
Tanta falta faz você
Queria você em casa

Sempre que não consigo me convencer, procuro inventar, reinventar uma maneira de despistar tudo aquilo que não é justo. A falta que faz você, faz sentir falta de si mesmo, sentir falta de você, de si mesmo, pode ser defeito. Em casa, na rua, no estádio, na praia, no verbo, no predicado, sempre é dia de aniversário.

Mãe
O amor que tenho por você é seu
Mãe
O amor que tenho por você é seu
Como é meu aniversário

Mãe você é responsável por meu aniversário, mãe eu não caso, mãe hoje é meu aniversário, mãe o meu amor além do sempre é apenas teu.

17 de agosto de 1935
12 de janeiro de 1963
19 de junho de 1989
Eu já não tenho 29


6 de fevereiro de 1957
17 de julho de 1957
18 de janeiro de 1981
Eu já não tenho 26

Mas continuo o mesmo.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Inventar para sonhar



El Amor en los tiempos del cólera, lançado originamente em 1985.

Janeiro, mês em que as nuvens desenham seus doces uniformes, e nós as condecoramos com nossa inquietude juvenil em tentar satisfazer as vontades e inventar. Inventamos até leituras de velhas crônicas, cartas marcadas de anos passados, e filmes vestidos de sonhos doces, mesclados com chocolates amolecidos da realidade. Na falta do que fazer, não inventei a realidade, a faço, com alguns dias de atraso.
O movimento interessante e importante deste começo de ano é sucessão presidencial nos Estados Unidos, após uma era Bush, finalmente parece que teremos o fim da hegemonia dos ataques, atrocidades e intolerâncias políticas. Talvez o fantasma do Bin Laden desapareça, ou passeie pela Califórnia em um futuro próximo com o senhor George. E a Copa do Mundo de 2014 no Brasil, até lá, muita coisa vai acontecer, mas certamente teremos também educação gratuita e de qualidade, como nos slogans das universidades públicas, hospitais com atendimento descente e segurança pública digna para mostrar ao mundo que o Brasil não é somente futebol. Parece até roteiro de cinema, um país lindo, com qualidade nos serviços para a população e ainda com o principal espetáculo esportivo do mundo por aqui, somente o Brasil para nos propiciar isto. Lembrei, este ano temos eleições municipais, boa pedida para logo começarem as disputas de candidatos, que caso fossem criações, tranquilamente poderiam contracenar com a Narizinho, o Visconde de Sabugosa, a Emília e o Saci, mas, infelizmente por motivos óbvios, não podem e nem devem. Janeiro mal começou, e o vicio cinéfilo aumentou a vantagem, sobre notas musicais, textos, resenhas, e outros afazeres, fica a pergunta – qual a finalidade de retirar dos cinemas o filme nacional. “Meu nome não é Jhonny”, seria uma decepção com a bilheteria? Ou um conformismo em mostrar o lado estrangeiro de fazer cinema? Hoje acredito que foi apenas uma maneira de apresentar a pré-estréia, e deixar com sentimento de quero mais, nos dias que antecedem o lançamento oficial do filme. Enfim, nas locadoras, encontra-se o “O Último Rei da Escócia (The Last King of Scotland), o filme trata da ditadura de Idi Amin em Uganda, muitíssimo bom, ainda de brinde, ganha-se a chance de assistir o ganhador do Oscar como melhor ator em 2007, Forest Whitaker como o ditador uganense. Sabiamente sabemos que as adaptações de livros para produções cinematográficas normalmente não agradam tanto, afinal na páginas dos livros temos várias janelas para enxergarmos o mundo, e na telas, somos induzidos a olhar uma única. Esta é a sensação ao assistir O Amor nos Tempos do Cólera (Love in the Time of Cholera), filme baseado no romance belíssimo de Gabriel García Márquez. O grande pecado da produção foi não produzir o filme em espanhol, optou pelo inglês, e acabou por maquiar demais a obra, chega a ser cômico, ver a reprodução das ruas de Bogotá e o inglês falado, fica um sentimento de falta algo. Não é verso de refrão, mas janeiro nem bem começou e já tenho tanto para falar. Hoje não parafrasiei muito, até porque ultimamente parafrasear eu, está difícil, inconstante e ultrapassado, passei da margem do entendimento, para perceber o que sinto das páginas não lidas, das perguntas respondidas e do silêncio da casa.

Ano novo, vida não tão nova, gosto de estação repetida, e até o momento concordo plenamente com o Marcelo Rubens Paiva - Feliz Ano Velho.

Bruno Scuissiatto