segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Ficção ao vivo


A cidade lá embaixo da minha janela é gelada nesta sexta feira. Está certo, meteorologistas são previsíveis, mas desta vez, admito: eles acertaram, tempo frio com chuviscos que nem parecem o cenário da chuva forte iniciada há mais de 24 horas.
Carros apressados, a rotina do final de semana, não quer reprise, pensa em chegar em casa logo, futebol, não, isso é nas quartas, seu time é da primeira divisão, pensa em zoar o amigo com time rebaixado e os jogos na sexta.
Com a esposa ausente, ela trocou a noite ao seu lado para acompanhar a mãe em um supermercado 24 horas no outro extremo da cidade, amanhã alguns primos da sua tia se hospedam na casa da sua mãe – casamento de uma vizinha amiga dos tempos de dificuldade com a suspensão da poupança por um ex-presidente.
Aqui, não há nada, o silêncio dos apartamentos vizinhos é a sentença, não tem futebol, mas último capítulo da novela das nove. Ri no seu tempo de televisão se falava, novela das oito, está certo, vai ver que o tempo é diferente a cada geração.
Insatisfeito com a presença solo, pega o controle remoto e começa zapear pelos diversos canais, pagos graças algumas horas extras no trabalho o final de semana. Normalmente passa por diversos canais no menor tempo possível, aprendeu que passando de um para outro, descobre programas novos, que normalmente durante a semana com mais pessoas em casa não consegue.
Na propaganda de uma cerveja com seus atores todos felizes e jogando sinuca, tocando uma música dos seus tempos de bailinho adolescente, começa a se sentir diferente. Na verdade o riff da sua primeira música aprendida em uma guitarra para canhotos com cordas para destros é começo do fim. Talvez sua única saudade no horário nobre. Até aqui, quem matou a Norma?
Ponta Grossa, 21h36, 19/08/2011
publicado originalmente no Blog Repúblicas do Brasil em 19/08, às 21h56