quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Um 2011 novo velho ano


A gente acha que sabe alguma coisa, quando ao entrar em uma lanchonete, escuta da proprietária, a prova real daquilo tudo que cansados ficamos ao lembrar. Durante o dia, bueiros com tampas da década de 70 estão visíveis – à noite, lixo da boca do lixo. Na frente ao antigo Cine Condor, pombas desafinam no caminhar, pode ser a invasão do crack, cego diante das autoridades e honoris causa na mão do moleque, que hoje, também pode vestir terno e comprar perfume importado. Viajar pela Curitiba que cresci é algo perigoso, não pelas narrativas do Dalton Trevisan – aliás, nem gosto do Passeio Público e quando menino tinha medo do Colégio Tiradentes.

Na Curitiba que gosto, encontro personagens anônimos, recém saídos do imaginário herdado do meu pai e avô paterno, que muitas vezes, reconheço pelo entusiasmo da lembrança.

Deixo a sombra da cidade para voltar ao final de ano, época de estabelecer novas metas, exigir promessas, comer lentilha, saltar sete ondas, usar amarelo, branco, enfim, semana de viagens, filas homéricas em aeroportos e rodoviárias – pedágios mais caros. Se no litoral, guarda-sol e repelente, poucas coisas piores que queimaduras e mosquitos.

Pode parecer falta de linearidade na crônica, talvez, seja mesmo isso que acontece, mas pelo tom das férias, nada pode ser mais irritante que uma linearidade costumeira que carregamos nos outros 330 dias do ano. Quando penso que fechamos a primeira década do século XXI, sinto quantas coisas passaram pelos bondes da vida. Saímos de uma geração que ainda ouvia walkman como ostentação do máximo tecnológico, agora entramos na que mostra com detalhes íntimos a rua da casa do seu tio no litoral catarinense – ao mesmo tempo, milhares de pessoas não sabem nem utilizar um computador. Paradoxos da vida, chavão, mas confesso e verdadeiro.

Na Curitiba de tantas árvores e radares, tecnologia e praças com nomes europeus, caminho por casarões abandonados e reformados – na Rua Riachuelo, um antigo quartel será local de salas de cinema, dessa vez, generais serão lembranças, não fotografias nos filmes.

A proprietária do começo da crônica, relatou que foi assaltada, às 8 e meia da manhã de uma semana de dezembro. Fica claro que ladrões acordam cedo também.

Alô, Beto Richa, tarifaço no busão, qual sua participação? Alunos, não os de avental do grupo Tiradentes (como escreveu o Dalton), indagam na rua XV. Quantos fantasmas nas conversas da boca maldita, não importa, o cheirinho do café da boca, ilude todos eles, turistas e curitibanos.

Passar pela cidade sem relatar Atlético e Coritiba é deixar de lado a parte vermelha e preta e a verde da cidade. Que a rivalidade esteja no campo e na arquibancada, não sejamos idiotas em acreditar em paz entre as torcidas, mas façamos nossa parte, incentivando que rivalidade não tem nada a ver brigas e coices, que nem os cavalos do regimento Dulcidio fazem mais. Mesmo que nesta década o meu Atlético tenha ganho muito, nascido verdadeiramente para o país e América, já, eles: isso aquelas promoções da coca-cola explicam – ioiô (meus amigos coxas sabem dessa verdade, não é preciso ser expert em matemática).

Ainda que tenham calado a pedreira, não tem sensação melhor que ver a casa do Leminski levado por seu pai e ali, perceber que entre aquelas árvores, sinto muitos dos versos do poeta.

Final de ano, antes dos bancos fecharem, fico on the road pelas calçadas da cidade. Um 2011, com muita Curitiba na lembrança. (aos que são de outras cidades, substituam o nome da cidade pela qual desejarem). Como diz a canção: – o esforço pra lembrar, é a vontade de esquecer.


* Los Hermanos, trecho da letra, "O vento", de Rodrigo Amarante.



quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Delitrando



toda confissão, mar
salgado vagar
devagar pelo parafraseio
delitrando no poema.



* Fernando Pessoa em flagrante delitro, conforme atestou no verso da foto para enviar à Ophelia Queiroz: Fernando Pessoa em flagrante delitro.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Aforismo - pode ser



S
e viver é muito perigoso, como definiu o saudoso narrador de Guimarães Rosa em Grande Sertão Veredas, um desses romances que não merece o pó da estante, se ausentar das lembranças é uma verdade que dói. Quando chega certa idade, vemos em nossos pais o símbolo de uma destruição, não somente do matrimônio deles, mas das gerações futuras - netos e bisnetos de nossos sonhos. Pela varanda da minha casa, perigoso será ver meus netos engatinhando, enquanto na rede vejo Riobaldo cansado e Caio Fernando Abreu confessando um happy hands dos lábios da Doris Day.


quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Take one

Em construção

ação


cão dormindo.

sábado, 9 de outubro de 2010

Dia de feira


Não lembro a última vez em que visitei a uma feira de hortifrutigranjeiros, mas certamente naquele tempo ainda calçava o chinelo escolhido pela minha mãe. Pensando bem, talvez naquelas manhãs de sábado, a escolha fosse feita por minha avó.

Passada duas décadas, muita coisa mudou, além da intromissão do século XXI, que entusiastas clamavam como o final dos tempos. Com a passagem para o ano dois mil, os mesmos celebravam pelos bates papos na cidade a imensurável alegria do belo mundo franciscano herdada das lembranças passadas junto à infância. Mal sabiam eles que o pop dois mil e doze estaria presente além das telas de cinema.

A grande mudança local foi a feirinha de todo santo sábado pela manhã continuar no mesmo endereço. Várias barracas agrupadas, as lonas laranja projetando sombras sobre o asfalto agora etiquetado com faixas de sinalização. Naqueles idos, talvez ali já estivessem todas estas sinalizações, porém a lembrança não se curva perante as preferências, nem mesmo, quando existe uma placa dessas na esquina.

Duas senhorinhas conversavam durante o último sábado na feirinha. Sorridentes, não desconfiavam do aumento do preço das verduras e frutas. Aprenderam com a tradição familiar comprar na feira as vitaminas que volta e meia alguns jovens encontram nos balcões de farmácia. Nem mesmo o susto com o preço elevado do quilo da batata a fez deixar de cumprimentar o vendedor.

- Bom dia.

- Tudo bem com a senhora? Passou bem a semana?

- Graças a Deus.

- Então, hoje, um quilo de batata?

- Aí fica caro ....

- Não fica.

- Pelo preço do quilo ....

- Faz assim. A senhora paga um quilo e mais um pouco de dinheiro, leva dois.

- Mas aí vai faltar para o bacalhau.

- Falta nada. Batata é um ótimo acompanhante para a bacalhoada.


Ladino, o vendedor tem a própria aura de comerciante. Enquanto a senhora avista de longe a outra que está em frente ao uma bancada de frutos do mar, o comerciário ensacolou as batatas e com o primeiro caderno de um jornal da semana passada, enrola alguns ovos, que ela nem teve a necessidade de pedir.

Não sei quando frequentei pela primeira vez uma feira de hortifrutigranjeiros, somente sei que de certa forma dói ao cruzar com os grandes hipermercados pelas esquinas da cidade. Certa vez meu filho me perguntou como era a rua em que moramos nos meus tempos de infância. Sem perceber, as lágrimas ganharam o rosto e lembraram do caminho percorrido para comprar pastel em uma banca, que eu com meus poucos mais de um metro e meio enxergava.

A presença do meu avô era a mais forte falta que eu sentia em caminhar pelas manhãs de sábado na feira. Naqueles tempos, costumava perguntar sobre a sujeira na rua. - vovô dizia ser pelo transporte dos feirantes, que deixavam folhas e frutas podres caídas pelo chão.

No último domingo caminhei até o colégio eleitoral para votar. As ruas todas emporcalhadas por santinhos de postulantes a candidatos, que acabam desaparecendo na mesma velocidade em que apareceram. Desta vez sozinho, adentrei ao pátio do colégio e ali alguns santinhos no chão.

Lembro da primeira vez em que indaguei o meu pai sobre o nome destes papeizinhos com foto, nome e poucas palavras. A sua falta de paciência falou mais alto e ele respondeu - todos santos. Cresci na inocência de saber que os santos não são apenas imagens em igrejas, estão muitas vezes pelo chão, pisoteados pelas mesmas pessoas que os elegem.

Lá na frente a senhora se despede do vendedor e promete voltar na próxima semana. Antes de ultrapassar a fronteira da barraca, diz que desde que o quilo da batata não suba. Com um ar suspeito, ele agradece e pensa em alguma persuasão para a próxima semana. Certamente diferente daquela que está acostumado encontrar duas vezes ao dia, principalmente nesta época do ano.

domingo, 12 de setembro de 2010

O avião de Henfil



O ato de assistir peças teatrais se tornou um dos exercícios mais clamados de prazer em ausência na minha vida. Constato, uma dívida impagável que exerço com a atualidade. Tal como um personagem devedor, um típico malandro, sempre busco brechas para assistir uma montagem teatral. Uma peça aqui, outra, ali, muito pouco, percebo ao olhar com desespero o informativo de mais uma peça anunciada no jornal.

Um dos envolvimentos de uma produção cênica é ultrapassar as fronteiras do palco e explodir no colo da velhinha na última fileira no teatro. Porém, ultimamente, apegado a dívida de deixar de acompanhar muitas peças, me jogaram no abismo de não conseguir aplaudir ou criticar muito do que porventura tenho acompanhado.

Desfeita as más impressões quanto a relação temporal dos caprichos com a arte dionisíaca, na mesma semana em que a quinta-feira, vestiu-se esportivamente de terça, ir ao teatro foi um acontecimento que mereceria um púlpito.

Ouvi distraído de um dos organizadores do espetáculo para esperar uns momentos antes de adentrar ao auditório principal do teatro. O cheiro do verniz exalado dos corrimões das escadas de acesso ao auditório inebriavam os poucos distraídos presentes ali. Poucos minutos depois, tinha a frente uma enormidade de poltronas vazias - pela primeira vez em alguns anos de eventos naquele local. Ao fundo canções brasileiras dos anos sessenta e setenta contornando a atmosfera que plainava sobre o público. A frente o palco imenso com um banco sem encosto, megafone, um litro de conhaque e três copos de martelinho. Nesse momento, remomerei Oswald de Andrade - "O Brasil é uma república federativa cheia de árvores e gente dizendo adeus". Sabia que essa afirmativa não é tardia, muito menos para a representação memorialística que começaria naquele momento - Henfil, Já.

Por imposições transitórias do tempo, não tive oportunidade de ser contemporâneo deste artista de natureza gigantesca, que assinalava em suas ilustrações e crônicas muito da situação vivenciada no período da ditadura no Brasil. Sem sombras de dúvida, o reflexo das censuras produziu no campo artístico uma inquietude que motivou muitas vezes os "donos do país" convidarem muitos deles para mandarem postais escritos com o cenário gélido da neve. O próprio momento de transição presidencial, na qual o relacionamento entre situação e oposição é uma mistura de agressividade e comédia, é antes de tudo, livre, pelos preceitos da democracia presente.

Cartas á mãe, Diário de um cucaracha, são exemplos de uma montagem, que levou o trio de atores, revivendo Henfil a levitar no palco e fazer a plateia, inclusive eu, já desacostumado com esse sentimento provocado pelo teatro novamente me perguntar - o passado realmente existiu?

Pautado pelo montagem, parece que a ficcionalidade é apenas uma parte do inventário do irremediável, neologismo ao nome da obra de Caio Fernando Abreu. Em falas censuradas, muitos Henfis, Zuzus Angels, Pixotes, Lulas, Chicos foram entoados no palco, parecendo abstratos pelo ponto de vista da arte no agora.

Em uma rápida conversa no final do espetáculo, confidenciei: somente com humor para vencer um país de censores.

Uma excessiva sequência de fotos de um militante de jornalismo atrapalhou a peça. Pensando bem, Henfil gostaria de ver as fotos, que no seu próprio tempo, foi fechada em arquivos. Já o ponto alto foi o avião do Henfil cair justamente em minha direção, seria um aviso da liberdade, mesmo que tardia?

Os inconfidentes nos responderam isso há muito tempo.



sábado, 4 de setembro de 2010

Perdoa, Drummond



Encontrou na crônica sua preferência de leitura diária. O ato de começar e findar o texto sempre foram comovedores. Uma dádiva para os padrões modernos, confidencia enquanto adianta umas questões de teoria literária para a próxima aula.

Não escreve para estabelecer juízo de valor, afinal para ele o contato com contos, romances, novelas, poemas, peças de teatro são exercícios da cidadania literária, que por questões temporais, carrega na sua biblioteca particular. Por vezes, precisa puxar do fundo das lembranças o nome de um autor ou personagem para responder a dúvida em conversas de corredor na universidade.

Imagina o dia em que alguém perguntar sobre herança do leitor – a dúvida será respondida pelo contato com os jornais, principalmente os populares, cascudos de suor.

Voltando para a sua realidade, em uma sala de aula abafada, o calor setembrino torna até mesmo os ipês coloridos em inutensílios (palavra originalmente usada pelo poeta Manoel de Barros e desdobrada por Paulo Leminski). O seu contato com a disciplina de literatura ajudou a desenvolver o roteiro de leituras, que um dia chegou a vislumbrar como o correto.

Na semana em que os poetas e a poesia - não a alma gentil que partiste, são entoados nas classes de literatura, Em nome da Senhora Gorda*, justamente uma crônica é o itinerário.

O diálogo e o atraso são pares na universidade – sentencia enquanto atuante do círculo acadêmico, ainda sem saber até quando o espelho refletirá a valsa pela realidade. A vocação de cada um varia com inclinações da grade curricular. Respeita os colegas, apesar de defender que a literatura deva ser sempre levada a tira colo.

O olhar iconoclasta dos outros normalmente o isola como o sujeito com a obrigatoriedade de saber os conteúdos de literatura. Nem mesmo as láureas acadêmicas são capazes de saberes exagerados. Desafia a epifania da canção oitentista – nem sempre se pode ser Deus.

No meio do caminho tinha uma pedra, justamente em uma aula sobre o Drummond, lhe pedidam para diminuir o tempo do documentário sobre o poeta. Logo para ele que assistiu ao filme na noite anterior, pausando outras emergências do conteúdo diário. Parte a parte dos fragmentos devidamentes cronometrados para conceber uma traição honesta com o tempo disponível na aula de literatura brasileira.

Voltando para a exibição da película sobre o poeta de Itabira, muitos alunos tinham em suas conversas paralelas atributos mais importantes que aquelas cenas entre a diplomação em farmácia ainda jovial em Minas e a entrevista simpática nos anos 80 em Copacabana. Os assuntos do estágio do dia anterior, das provas após o feriado da independência, ecoavam radiofônicos na sala. Um deles exclamou sobre o show universitário em um pavilhão de exposições da cidade durante todo o feriado.


- Não vou estudar.

- Nem eu. Poesia é apenas ler - disparou o outro.


Não é nova essa situação, desde sua primeira semana na universidade, ainda nas aulas sobre Brás, Bexiga e Barra Funda, esses mesmos alunos galhofavam a situação de Gaetaninho. Encurralado em uma carteira no fundo da sala, que naquela altura contava com um número quatro vezes maior que da turma atual, ele padecia com o sangue italiano inebriado pelos comentários. Tempos depois, já no último ano da graduação, os risos fáceis com o sotaque lusitano, logo em uma declaração de um crítico português sobre a obra de Fernando Pessoa foram manifestados na sala de aula.

Se perguntado, não saberia definir o movimento do qual faz parte no momento, mas acredita que o contato com as leituras de literatura é menor que um compromisso pedido por qualquer outra disciplina.

A sua única certeza é que a pedagogia vai recolher muitos, inclusive os que tiveram contato com a crônica Em nome da Senhora Gorda durante o primeiro ano do curso de letras.


* crônica originalmente no livro Impurezas Amorosas (2006), de Miguel Sanches Neto.



sábado, 28 de agosto de 2010

Diário




18 horas de um verão no inverno

O telefone toca, do outro lado, a voz do pai - veja que pecado, o Ganso precisa de uma cirurgia. Por um momento, rompo com o som da biblioteca, me colocando entre as estantes para continuar a prosa. Sei do delito cometido, mas pelo contrário, nenhum usuário teve o posto de reclamante no inicio de noite. Certamente a voz costumamente alta, herança das conversas nos almoços familiares de domingo, não teve destaque. Passado alguns minutos, tinha contato com os belos versos de Angalusa - notoriamente um grande romancista, mas um desconhecido poeta, pelo menos para mim. Na obra Coração dos Bosques – Poesia 1980-1990, uma anotação de forma sutil, que traz as sensações que apenas a relação entre obra e leitor proporciona. “O referido volume foi comprado, há cerca de um mês, numa livraria do Chiado, em Lisboa (uma das mais antigas e pequenas, para que conste). Estava cuidadosamente ‘soterrado’ sob uma pilha de outro livros, dentro de um caixote de cartão. Preço: 1 (um) euro. Não sei o que pensar disto.


Nem tudo é ficção

Os pequenos armazéns acabaram sombreados pela arquitetura das grandes redes. Mesmo localizados na região central, estão de certa forma esquecidos pela publicidade que pouco faz questão de aparecer. Para os antigos moradores, se percebe a grande satisfação em comprar nestes lugares - escolher tomates, alface, ou mesmo, ver que o preço da banana caturra está menor que da prata é uma tranquilidade, retornando pelo flashback das décadas passadas. Ainda é possível comprar cascos de refrigerantes de um litro, pela bagatela da nossa maior moeda, isso se torna uma espécie do passado vestido pela modernidade. Ainda na saída, uma breve conversa com um dos senhores, que conta sobre o casebre abandonado da esquina.


O colete marrom

Na conversa com a namorada, descobre que os problemas de uma cidade são muitos. Fatores diversos permeiam o cotidiano, mesmo os relógios precisam passar com seus ponteiros sufocados pelo brim da calça, após uma suposta acusa de meliantes no outro lado da avenida. O bombardeio de violência, fustiga a memória, que começou a rememorar fatos na discussão em torno da produção literária pós golpe de 64 - por mais que a delatação tivesse outro sentido naqueles idos. Nem mesmo os cachorros que se tornaram uma das marcas do centro da cidade parecem estar dispostos a cooperar com latidos para despertar a cidadania. Na atividade um "meliante" que certamente seria personagem marginal se não fosse um malandro com ares cênicos.

Senhores

A formalidade do apresentador contrasta com a fala deles. Perfilados em um semi- círculo - seis postulantes ao senado pelo estado do Paraná participam de uma sabatina então inédita na televisão. O jogo de perguntas e respostas via sorteio torna o debate um verdadeiro embate familiar - mesmo separados, muitos são parte de um mesmo partido, o que torna o diálogo uma oferta extensiva do programa diário dedicados a eles. Algumas zapeadas noturnas e me deparo com a frase: não cresci a base de raspinha de maça e mucilon, sem querer, um personagem começou a ganhar vida. Promete estar com as mangas dobradas até o primeiro turno das eleições.

Zapeando por aí

Aristóteles o que escreveria se presenciasse alguns rumos da comédia do século XXI? Não basta o humorista padecer por fazer parte de um segmento que capitaliza muito mais com os piores. Precisam trocar ensaios por caminhadas na orla carioca para protestarem conta a mordaça humorística. Ave, o humor venceu a lei com ares apartidários.

Extras

Paulo Henrique Ganso vai ficar seis meses fora dos gramados, validando o pecado suscitado pelo meu pai.

Dois litros de refrigerantes em garrafas retornáveis é muito mais em conta e saboroso.

Hoje ele não apareceu – talvez tenha embarcado para Francisco Beltrão.

Inri Chiristi é o marqueteiro dele, será?

A piada quase ficou muda com a lei.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O vazio é lotado de possibilidades



O silêncio, uma fração da realidade que se aquieta, entre os movimentos dos ponteiros no relógio. Para o escritor, o ato da escritura, transforma em onomatopéia o movimento pianista dos dedos. No urro da ideia, agoniza o verbo. Escrever é ato, presença e um pouco do agora.

Tantas coisas passam na sua frente, rememorando os tempos da infância, quando saia às cinco horas da manhã para trabalhar ao lado do seu pai no Mercado Municipal. Nas figuras dos velhos sacerdotes, que com suas propriedades de hortifrutigranjeiros, pagavam um pequeno salário para eles. Nas voltas da vida aprendeu que pelo caminho da escola, teria oportunidades diferentes - passados tantos anos, organiza sua agenda pessoal, começando sempre pela leitura do jornal enquanto toma o café da manhã.

Ultimamente o acontecimento de muitas coisas o faz sentir o desespero do adiamento de um novo texto. Com as atividades corriqueiras de uma profissão ortodoxa, fica com o espaço das férias para a escritura de textos longos - lembra que no último romance, necessitou de praticamente três recessos para conseguir finalizar o trabalho, que já contava com aporrinhações do editor. Semanalmente escreve crônica, começou como uma tarefa simples desta escritura tão cotidiana. No contato com outros escritores, acabou descobrindo que eles normalmente produzem isolados em seus escritórios-blibliotecas.

Uma das grandes chaves da ficção é o isolamento, mesmo que muitas vezes ela seja uma senhorita garbosa que não aceita a própria existência, precisando sair para o chá nos salões do centro da cidade. Exemplos de ficcionistas que procuram estar distante da sociedade e dos personagens criados em suas obras não são raros. Muitos fazem do contemporâneo a vida que os outros não enxergam - frequentando os lugares em que na porta está o aviso do funcionamento até às 22 horas. Cercado de tomos literários, muitos empoeirados, pede desculpas por deixá-los fechados por tanto tempo. Imagina o dia em que houver uma revolta dos narradores e personagens - todos entrando em greve.

Ao escutar da esposa que seu isolamento literário ainda seria fruto da fissura familiar, resolveu mudar de posição a escrivaninha abarrotada de papeis das mais variadas espécies, algumas com traços de um novo texto ou os predicados positivos de algum personagem secundário. Mais próximo da porta, podia ouvir as birras da filha pedindo um irmão que acabasse com sua solidão de filha única. No televisor comprado em uma liquidação pós Copa do Mundo, escuta que foi iniciada a campanha eleitoral, duas vezes ao dia, terá oportunidade de acompanhar o falar dos candidatos - entre os ruídos da rua invadindo os cômodos da casa.

No itinerário do seu dia, a rememoração surge no gosto do mamão durante o café da manhã. É dia de crônica – podendo tudo ou nada na parágrafo iniciado.


segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Princeza




Escrevi um conto sobre a morte duma cachorra, um troço difícil, como você vê: procurei adivinhar o que se passa na alma duma cachorra. Será que há mesmo alma em cachorro? Não me importo. O bicho morre desejando acordar num mundo cheio de preás. A referência do escritor Graciliano Ramos é sobre Baleia, personagem do romance Vidas Secas (1938), certamente um dos mais importantes e bonitos de toda história literária brasileira. Na climatização do sertão alagoano a cachorra é o elemento que unifica ficção-realidade/realidade-ficção. Como leitores, somos testemunhas oculares da invasão dos personagens em nossas vidas. Virando páginas, encontramos outros capítulos, surpresas, finais. Finais?

Diferentemente da literatura onde podemos imaginar os fatos pela duplicidade, a vida nossa de casa dia não permite tais caprichos. A notícia chegou pelo celular - a Princeza morreu. Com a voz embargada meu pai retransmitia a fala da minha mãe. Naquele momento estávamos no trânsito caótico do sábado em Curitiba rumo a rodoviária - dois homens chorando timidamente, sem acreditar na situação. Coisas comuns nos momentos de perdas. Pouco tempo depois eu seguia viagem dentro de um ônibus na poltrona 37.

Para quem sempre considerou Vidas Secas como o mais belo romance da literatura brasileira, à partir do último sábado ele passou a ser também o mais importante. Graciliano tem razão, a morte duma cachorra é um troço difícil. Para quem teve por uma década a participação da Princeza no círculo familiar não será fácil conviver com a sua perda. A sua presença foi maior que a de um animal de estimação. Não pelo nome oriundo da nobreza, sim, pelo engano da natureza em chamá-la de cachorro.

A fotografia de Chaplin com um vira-lata, representa e fusiona muito bem a relação entre o homem e o cão. Símbolo do melhor amigo do homem ou a simples interpretação de gestual canino ao olharem para um transeunte com aquela expressão: me levem para casa, são comprovações que o cachorro representa sentimentos cada vez mais humanizados. O que dizer da máquina de frangos, coloquialmente chamada de "televisão de cachorros". Nossos aparelhos televisivos de polegadas cada vez maiores são gorduras para o pensamento. A denominação do cão como um alpinista social, realmente é, principalmente se comparados com a frieza dos gatos. E o homem? Seria um alpinista social em suas relações? Pode ser que a crítica soe alta e o sentimentalismo baixo, mas no íntimo acabamos sempre alpinistas pelos everestes da vida.

Na viagem pensei em momentos familiares com a participação da Princeza. Ela que eu costumava chamar de "velhinha", batendo palmas, improvisando uma espécie de samba desafinado, sempre correspondido com a inclinação do seu pescoço e um sonoro choro ritmado - aquelas eram suas palavras. As conversas no ateliê de costura e a interpelação dela no outro lado da porta, querendo atenção - essa Princeza, falava minha mãe. O sorriso do meu pai ao elogiá-la e ela começar a desfilar com suas patinhas tortas "a la Garrincha" exibindo o seu rabo comprido e fino. Minha irmã a tendo inicialmente como presente de Natal e posteriormente respondendo os vigilantes da gramática – minha Princeza é com z. Confidenciou ontem: ela cresceu comigo. E pensar que na quinta passada escutei do meu irmão ao soltar a Princeza e a Meg para a frente da casa, uma da frases mais ternas sobre cachorros: esses cachorros tem vida de cão. As corridas já mais lentas, o focinho branco, os latidos casmurros com os meninos jogando bola na rua, a tosse, a tosse, a tosse. Sua despedida de mim na porta entreaberta propositalmente por mim, respondida por sua sonata característica e seu olhar precioso.

A morte de um cachorro tem o perigo de fazer esses momentos em família desaparecer. Por mais que outros cachorros continuem e a vida também, nada volta, continuamos no agora lembrando do passado - como continuamos. Concordando com Graciliano mais uma vez, o bicho morre desejando acordar em um mundo cheio de preás.

No tilintar das refeições e no olhar para o quintal de casa a lembrança continuará escutando os sons da sua presença. Como disse Deleuze - a vida não morre. Estendendo essa ideia - cachorros também não.


Aqueles latidos, aqueles ....
Aquela carinha de felicidade ao escutar o tilintar das nossas refeições.
Aquela cachorra de patinhas tortas.
Aquela
aquela
aquela
aquela ....

Princeza que a natureza se enganou ao chamar de cachorro.





terça-feira, 27 de julho de 2010

Uma boa história para contar: El Gabo


Crônica originalmente escrita em 07/04/2009.

L
embro perfeitamente a primeira vez que tive contato com uma obra de Gabriel García Márquez: foi em um dos andares Biblioteca Pública do Paraná, creio que seja no 2ºandar. A minha procura por Márquez aconteceu após escutar do professor em uma aula de Geografia sobre o ativismo político do escritor. Sem muito saber sobre prazer literário, puramente em nome de uma insistência juvenil (curiosidade), me deparei com Cem Anos de Solidão – sua obra prima, uma das maiores obras da Literatura do século XX. O livro estava em uma estante central, ao lado de outras obras literárias, como Memórias Póstumas de Brás Cubas, que na época eu ainda não tinha lido, a minha caretice juvenil não entendia a escrita machadiana.

Ainda em pé, comecei a folhar as primeiras páginas do romance, estava impressionado com o livro - até este momento estava mais impressionado com a linda capa verde com detalhes em amarelo e sobretudo com a militância política do autor - exilado no México em decorrência da acusação de colaboração com a guerrilha colombiana. Tudo o que eu mais queria naquela manhã era fazer o empréstimo do livro, porém, a " inocência juvenil" se perguntava - o que meus amigos vão pensar? Como um personagem fantástico da literatura de García Márquez, resolvi tomar a atitude de efetivar o empréstimo da obra.

Muitas páginas lidas da literatura de Márquez, muitos anos depois, durante a leitura de um novo romance - O Filho Eterno, do Tezza, de costas para o televisor, escutei a chamada sobre Gabriel García Márquez - o lado amante incondicional da literatura se estampa de felicidade - deve ser sobre o lançamento de alguma obra, ou mesmo, uma biografia sobre o Gabo. Em menos de dois minutos o extase feliz, se resume a cabisbaixo escutar sobre a aposentadoria de Gabriel Gárcia Márquez. Pensa - não pode ser, injustiça com a literatura, faz confidências e esbraveja cercado no singular preso entre as paredes do quarto. O estranhamento causado pela notícia da aposentadoria do escritor colombiano, provocou um silêncio que chegou a interromper a leitura do romance naquele instante. O silêncio foi totalmente involuntário, talvez uma extensão da própria personalidade do escritor colombiano - um solitário confesso.

O anuncio da aposentadoria de Márquez me provocou um estranhamento, digno dos 18 anos de dedicação do escritor para a publicação de Cem Anos de Solidão, talvez, fruto do sentimentalismo exarcebado em saber que o realismo fantástico de Gabriel García Márquez vai deixar de proporcionar novas publicações. Simultaneamente a este sentimento extramente romanesco, percebi que Gabriel García Márquez não precisa de mais nenhuma obra inédita, pois, o ineditismo em sua produção literária poderia ser uma forma de comparar sua produção passada com uma eventual atual - um argumento certamente hipotético - constata no dia seguinte.

O autor ao longo de sua carreira - ainda não concluida, afinal o escritor colombiano sempre tem uma ótima história a nos contar, publicou 26 romances, entre eles – Ninguém Escreve ao Coronel (1961), Cem Anos de Solidão(1967), O Outono do Patriarca(1975), Crônica de uma morte anunciada, O Amor nos Tempos do Cólera(1985) e Memórias de Minhas Putas Tristes (2005). Também foi ganhador do Nobel de Literatura em 1982 – com Cem Anos de Solidão. Além disso o autor teve alguns dos seus romances adaptados para o cinema - Crônica de uma morte anunciada, O Amor nos Tempos do Cólera e seu último trabalho até o momento - Memórias de Minhas Putas Tristes será o próximo a ser lançado.

Ao contrario do primeiro contato com uma obra do escritor colombiano na Biblioteca Pública do Paraná, o contato com a última aconteceu há pouco mais de dois anos, quando já não fazia mais parte do circulo dos insistentes juvenis. Descobri em Memórias de Minhas Putas Tristes que não precisava me preocupar com o que meus amigos iriam falar, até porque, eu falaria aos meus amigos – com 90 anos ainda podemos e devemos sentir desejos.

Ao voltar encontrar as lembranças do primeiro contato com Gabriel García Márquez, percebo que naquele momento fugi do lugar comum - em um lapso digno de quem não entendia direito o que acontecia, segurava uma obra vencedora de um Nobel de Literatura,que poderia ter ficado distante da minha leitura não fosse a
minha " insistência juvenil".

Com a aposentadoria de Gabriel García Márquez a literatura perde muitíssimo, porém, a vida ganha – chega a ser estranho pensar assim, mas para quem sempre escreveu sobre ensaios do que a vida representa, chegou a hora, da vida vê-lo com a mesma atenção que ele sempre a olhou.

domingo, 11 de julho de 2010

O herói de cada menino envelhecido


O Maracanã com suas gerais grudadas no suor das costas do bandeirinha que há pouco invalidou uma ótima subida do ponteiro direito Maurício pela direita. Na defesa o time rubro-negro se defende com a maestria ainda reluzente da geração anterior de Zico, Andrade, Leandro e cia. A narração televisiva sensibiliza o espectador ao percalço do Botafogo, que há 21 anos não conquista o certame estadual.

- Tá na rede – narrado pela inconfundível voz de Januário de Oliveira. Maurício, o mesmo que teve uma boa jogada impedida indevidamente pelo bandeira, colocou o grito de gol nas gerais e cadeiras do Maracanã - meia hora depois a torcida alvinegra celebrava aquele campeonato carioca de 89. No Olimpo Futebolístico, Mané driblava nuvens e saltava para tocar os raios de sol, sorridente pela volta da magia da jogadeira 7.

Gostava de falar sobre o futebol na manhã seguinte durante o recreio escolar, naqueles passageiros 15 minutos e broncas levianas do inspetor pela demora na formação da fila indiana em que éramos perfilados.

Assistir no estádio ou mesmo ver pela televisão uma partida de futebol é enxergar os heróis que os meninos encontram como mais reais possíveis. Aqueles vinte e dois homenzinhos correndo em um gramado é uma inexatidão completa, nada que a escola ouse conseguir ensinar. Com camisas de clubes variados íamos para os campinhos de areia jogar bola. Vez ou outra aconteciam algumas discussões motivadas pelas bicudas na altura dos pinheiros nos fundos das traves. Gol perdido é perdoado. Já galináceo, não. Então, jogar no gol é uma tarefa dos heróis mais fortes, com suas camisas em tom diferente do restante dos jogadores do próprio time, desafiando todos. Quando fazem defesas de mão trocada, ou ainda, parados no meio dos nove metros e quinze conseguem espalmar um pênalti, são heróis que cada guri enxerga no espelho quando se olha um jogador de futebol.

Os meninos de hoje podem não perguntar ao pai o motivo dos maiores heróis do país não participarem da fase final da Copa do Mundo. Talvez, eles não admitam que meninos de outros paises possam ter heróis com mais capacidade que os vestidos de verde e amarelo.

Um dos causos mais remotos nos dias de hoje são os diálogos entre o pai com suas vicissitudes herdadas da paixão futebolística e o filho que cresce sem espaço em casa para a mesa de futebol de botão.

- Papai, você sempre falou do futebol.

- Sim. Ainda lembro do futebol com bola de meia na escola.

- Era bom?

- Nem fale.

- Pai, e a seleção?

- Fomos mal.

- No vídeo-game o Brasil tem o melhor time.

- Somos pentacampeões.

- E a Espanha?

- Estão bem.

- E a Holanda?

- Ganhou do Brasil.

O ritmo de perguntas e respostas perdia força para a altura da noite que chegava sem pedir licença na sala de casa. Sentado com os tornozelos para trás, ele coloria um destes animes, enquanto o pai tentava formular uma resposta para justificar sobre os erros dos heróis de cada menino envelhecido.

Ele dormiu sem perguntar sobre o que o noticiário mais fala nos últimos dias. Ainda sem entender nada destas manchetes, leva o filho para a cama sentindo o peso de um verdadeiro herói nos braços, como fosse o goleiro que nunca foi.



sexta-feira, 2 de julho de 2010

O silêncio acompanhado


Uns dos desdobramentos mais comuns na vida de uma pessoa em constante mudança são os vizinhos. Diferente de viver sempre em um mesmo endereço ou uma mesma cidade em que as mudanças ocorrem normalmente pelas transformações imobiliárias.

A explicação mais usual para o contato ou ainda a falta de contato com os vizinhos estabelece um conceito que torna o homem diferente de todos – sem eles não teríamos muitas boas histórias para contar.

O sorridente porteiro de um edifício no centro da cidade conseguia contar boas histórias sobre os moradores dos sessenta e cinco apartamentos – antes exercitava a especulação cotidiana com os moradores. Poucos minutos diários na espera do elevador eram suficientes para conhecer um pouco dos vizinhos, mesmo aqueles que nunca tinha visto.

No começo domiciliar na cidade não tinha dimensão de como ela funciona. Realmente é como dizem os professores de língua estrangeira, nada melhor que residir em um país para conhecer seu idioma, costumes e sentir na nuca o peso da cidade – no meu caso, um vento princesino. Nesta lógica, aprendi a conhecer a cidade, junto com seus sobrenomes tradicionais, não somente no campo da política.

Tudo uma casualidade, se visto pelas diferenças culturais existentes, mas para quem se acostumou a viver como um nômade, não pode ser estranho, nem mesmo notável tais acontecimentos. A grande chave para quem mora sozinho em uma cidade diferente da sua é a audição capaz de decifrar os menores ruídos.

Pode ser o disparo de um alarme de algum carro estacionado em vaga reservada para cadeirantes na mesma avenida com uma escuridão decorrente da queima de uma lâmpada bem no centro da cidade – justamente nos 20 metros acima a luz ajuda no brilho do luminoso da prefeitura que anuncia a população da troca de todas as lâmpadas.

Mas poucas coisas podem ser mais ficcionais que morar sozinho e não ter vizinhos de longa data. Aliás, tal teoria é ainda mais presente com uma edição de folhas tipo às de jornais do Cortiço de Aluízio de Azevedo. Anotações com pouco mais de um ano, que chegam pedindo passagem para a falta proporcionada do agora. Aos lados os dois vizinhos, contribuem para qualquer naturalista ficar inicialmente com vergonha – a timidez é um estado inerente do ser humano, principalmente quando sabemos o que acontece ao lado. Eles conseguem ao mesmo tempo sincronizar ações, poderia pensar que são conhecidos e realizam uma espécie de tara sexual, com um espaço entre eles – mesmo com um dos apartamentos sendo habitado recentemente.

Entre o contato com a lembrança do primeiro vizinho na infância, um sapateiro que costumava não entregar as bolas de futebol dos meninos exalando a infância no golzinho de toda tarde – e os vizinhos inusitados em São Paulo, como a senhora portuguesa que sempre morou sozinha depois que chegou de Porto. Escutei isso por diversas vezes no elevador entre o 6º e o 9º andar, sempre entre dois travestis que moravam juntas e reclamavam que a velha lusitana costumava bater com o cabo da vassoura no teto do apartamento para alertar sobre os risos de boas companhias naquele 112. A grande chave deste encadeamento é de nunca ter cruzado com a senhora nos mais de 13 meses residindo ali na região da Augusta, tendo sempre que escutar conversas em terceira pessoa.

A última mudança na cidade não permite mais eu encontrar o porteiro que sempre comentava sobre os moradores do edifício – por mais que sempre passe em frente ao local, o perceba sentado em frente ao um computador, sem ângulo para olhar o meu itinerário. Pensando bem, certo ele que comenta sobre todos os outros. Não será surpresa alguma encontrar no twitter uma hashtag # Marieta.



quarta-feira, 23 de junho de 2010

Tempo de Copa


Em junho, além do corriqueiro inverno e férias escolares cada vez mais obsoletas, temos partidas da Copa do Mundo a cada quatro anos. Meu avô que está certo, torce para quem ganha. Não o desafie dizer que isso é antipatriotismo, pois provavelmente ele irá rir e perguntar: tu sabes a escalação do Brasil de 50? No auge da celebração de nosso triunfo tecnológico, seguraremos um riso iconoclasta, de quem utiliza o buscador do google para respostas imediatas - foi no Brasil e perdemos para o Uruguai por dois tentos a um em pleno Maracanã. Sem desmontar o seu sorriso diário, ele vai dizer que toda solidão é um disfarce, mas a solidão do Barbosa é única e maior que as cinco conquistas mundiais da seleção brasileira.
Nestes dias de labuta futebolística nem precisamos nos conectar à internet, o noticiário televisivo repete constantemente os encantos e desencantos do futebol na África do Sul - que diga uma certa emissora com a postura do Dunga. O mesmo foi contestado e marco da geração de Lazaroni derrotada sem atitude na Copa da Itália em 90, prolongando a fissura de vinte e quatro anos sem a conquista do mundial, findada nos Estados Unidos em 94. Sabemos que o Brasil tem algumas coisas em que a crítica sempre vai bater - desfiles carnavalescos, jogos de futebol e crônicas de jornal. Porém, desde que assumiu o comando da seleção, Dunga teve bons desempenhos até o momento, inclusive ganhando da Argentina em Rosário depois de muitos anos. O "se" nunca é tão entoado como nestas épocas, mas o jogo é dentro do campo, sempre foi e continuará, acreditemos.
A seleção tem como escore duas partidas neste mundial - vitória preguiçosa sobre a Coréia do Norte e uma vitória convincente sobre a Costa do Marfim. Por mais que o futuro no futebol seja sempre a próxima partida, a lembrança mais bonita da Copa da África será sempre o segundo gol do Brasil na última partida, independente da posição final da seleção na Copa - o lance mitológico de Luis Fabiano no segundo gol brasileiro na partida, mesmo irregular vai me emocionar sempre, posteriormente muito mais, pois lembrarei do meu pai gritando - gol de Pelé, gol de Pelé, gol de Pelé. Nesta hora a felicidade invadiu a sala de casa e transformou o final da tarde de domingo em uma grande celebração entre pai e filho.
Não é que das coisas menos importantes o futebol é a mais importante, concordo ainda mais com a afirmativa do Nelson Rodrigues.
Pensando bem o inverno apenas começou, mas nestes dias de Copa, somente meu avô continua torcendo para quem ganha.

sábado, 22 de maio de 2010

Chronos

Em tardes azuis, não tenho tempo. Oras, logo eu que sempre defendi a tese, tempo é aquilo que a gente faz. Paradoxal, não?

Mas a modernidade tem seus solavancos, muitas coisas ao mesmo tempo, e de tanto escrever sobre tempo, percebo que não tivemos nem muitas tardes azuis nas últimas semanas, tudo cinza, tempestades e ventos “quebra guarda-chuvas”.

Os senhores me desculpem, mas estar em constante construção é argumento de arquitetos, nós estamos em desconstrução permanente.

Fico por aqui, o tempo é agora.


tempo

que tempo bom

era o tempo de ter tempo


menino ainda

acredita nas verdades

verdade essa que o tempo

estava comigo sempre.