quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Muito a todos NÓS


Entre as muitas formas de agradecer um ano, fico com a sensação que o melhor agradecimento é o agradecimento ao velho ano, e um novo ano que nos inventaremos. Sim, inventaremos. Uma das maiores virtudes das pessoas é inventar. Seja da maneira que for, estamos sempre a inventar. Inventamos promessas, inventamos planejar um novo ano, inventamos fazer tudo diferente, inventamos um novo ano, sem poder esquecer do velho ano, que na verdade não ainda não pegou sua bengala.
Como alguém que sempre inventa anos (por favor, invenção é inerente ao ser humano) percebo que o ano que finda daqui oito horas foi um bom ano a todos nós.
O Parafraseando Eu é escrito por mim, mas feito por muitas invenções verdadeiras que levo no coração – Hilda, Francisco, Fábio, Karine, Adair, Nilda, Claudino, Glória, Luciano, Jean, Detho, Marlon, Sueli, Maiara, Priscila, amigos, colegas e todas as pessoas que me mostram que as invenções não tem dimensões quando tratadas com o amor.



Um ano se faz com três letras
duas vogais
e um desejo forte de felicidade


para NÓS

todos nós
muitos de nós.



Grande 2009!

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Ao mesmo de todo dia



Quando crianças vemos o mundo com um olhar que visto hoje em dia é uma das formas de invenção do mundo. Em histórias e fábulas da vida real presenciamos um arquétipo de idealização, seja ela no plano experimental, seja no afetivo. No experimental destaca-se nossa vontade de desmascarar a verdade que nos é apresentada, puxar a barba postiça do papai noel é uma das alternativas. Na afetividade através das histórias contadas por nossos pais, avôs e familiares enxergamos uma aproximação do que são pessoas, do que são verdades, e, similiridade entre os dois não encontramos sempre.
Desde que o mundo é mundo para nossos entenderes, fazemos a viagem da descoberta, muitas vezes levados pela influência das pessoas mais próximas de nós e também pelas distantes de nós. Distantes, sim. Um jornal bombardeado de tinta preta, um velho livro de história, um filme épico, um sonho interrompido pelo despertador são exemplos de algumas distâncias que nos modelam a enxergar o mundo.
Com este conceito de mundo caminhamos e percebemos o quanto o mundo está repleto de homens e merdas. Os homens são aqueles que estão sempre a viver no mundo de maneira a não desmantelar o próximo, a não ser que seja com a premissa de estar no caminho certo. Já os merdas são aqueles que se escondem atrás de seus princípios e dissimulados da realidade não fazem questão de confessar: eu estou vivo. Pensando bem, todos os merdas estão incrusto na realidade, nas páginas vivenciadas e não vivenciadas da história. Esta pequena definição de homens e merdas é para ilustrar que o mundo somente é mundo por reconhecer estas diferenças.

Nestas diferenças reconhecemos as diferentes denominações de natal. Neve, calor, frio, chuva. Qual será melhor? Não tenho o intuito de querer responder esta questão, até porque o conceito de melhor sempre anda acompanhado do conceito de pior. Papai noel vai descer pela lareira. Pela churrasqueira. Tudo bem, vai entrar pela porta. Vai trazer presentes, vai rir com um sorriso contente. Vai aparecer na propaganda da coca-cola vai cantar em vários cantos das cidades. Vai fazer muitas crianças felizes!

Quando chegamos à realidade da vida, percebemos que a infância, a festa de natal na idealização de papai Noel é uma invenção da realidade. Pensando bem, a invenção da realidade é um dos sentimentos mais bonitos que podemos ter. Afinal viver sem inventar é se debruçar na esterilidade da realidade, e conformar-se com o belo do tudo. Pouco a pouco as crianças ficam adultas e perdem a idade, mas nunca a essência da infância. É este sentido que nos faz reconhecer as diferenças entre homens e merdas, inclusive acreditamos em um homem, aliás, nem todos acreditam, não importa, ele se importa muito mais com nós, que nós com ele, é a vida.

Quase beijando a ceia de logo mais, o Parafraseando eu deseja a todos um grande Natal, com muitas coisas boas, e se o mundo é feito de coisas boas, desejo muitas coisas boas a todos vocês!


segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Proust errado


- Boa tarde, senhor.
- No que posso ajudá-lo?
Antes mesmo de eu erguer os olhos a dupla indagação já tivera ganhado vida. – Não, somente estou olhando. Entregou-me um cartão com o número 107. – Qualquer coisa entregue o cartão na hora do pagamento. Tudo bem.Comecei a percorrer prateleiras de livros e mais livros com classificações mais variadas possíveis. Vez ou outra percebi que a distribuição não estava tão correta, por exemplo, encontrar um – Em Busca do Tempo Perdido, exposto em prateleiras de literatura inglesa não foi nada sincero, imagino um dialogo entre um cliente e um vendedor:

- Por favor, você poderia me ajudar a encontrar um livro?
- Sim, qual é?
- Em Busca do Tempo Perdido. Ah, sim, somente um momento. Caminha apressadamente até ao catálogo informativo e em desespero volta com a informação. – Nós não temos um exemplar disponível aqui. Um sorriso amarelo e meia vontade de pegá-lo pelo pescoço e dizer, jovenzinho, o livro têm, porém ele está colocado na prateleira da literatura inglesa. E até onde sei o Louvre, Proust e Molière são franceses. Deixo de lado este legado de imaginar muito além daquele misero erro entre tantos livros empilhados lado a lado. Voltei à ficcionalidade da realidade e continue na nau de navegar atrás de um livro. O aroma de uma livraria é único, nem mesmo as fragrâncias mais sublimes do mundo são capazes de transpor o cheiro que as páginas de um livro novo exalam. Embriagado pelos aromas dos mais diversos livros comecei a olhar com uma visão mais periférica do espaço. Percebi que estava cercado por outras 106 pessoas, melhor, 106 efusivas pessoas. Todas com um descontrole apropriado para (re)visitar uma livraria. Sorrisos, abraços, frases altas para comunicar que estavam frente ao um livro. Aquilo foi me despertando para subtrair os pormenores e ir atrás de constatações perenes a nossa realidade social. O MEC divulgou que o índice de leitura no Brasil é de 1,8 livros por pessoa ao ano. Isto significa dizer que grande parte dos brasileiros tem o hábito de ler um livro a cada seis meses, quer dizer, não chegam a terminar um dos dois. Qual seria a alternativa para erradicar este índice? Talvez, este índice tenha razão com as duas principais razões apontadas pelo Ministério da Educação: o alto preço dos livros no país e o desaparelhamento das bibliotecas públicas. De dois contrapontos podemos ajudar a transformar um, as bibliotecas públicas dos municípios. Entre os dois este seria o mais fácil de conseguir atingir. Baixar o preço do livro, que é altíssimo para os padrões salariais da grande massa de brasileiros é uma tarefa que é dependente de impostos. Mas, as editoras poderiam ofertar um número maior de exemplares para abastecer as bibliotecas e principalmente as escolas. Outro passo seria uma divulgação e esclarecimento para a população sobre o empréstimo de obras e contribuiria para levar o país a aumentar o índice de leitura e leitores.
Chegar até este ponto acima não era o principal desta postagem, porém certos caminhos se bifurcam e não tem como sair do emaranhado de sentidos. Senti como voltasse a escutar a atendente novamente a dizer - Qualquer coisa entregue o cartão na hora do pagamento. Continuei a nau da procura de algum livro interessante, mas continuava com a companhia das 106 efusivas pessoas e mais algumas que chegaram ao intervalo que estive recluso a pensar nesta problemática. Acabei por não levar nenhum livro, devolvi à ficha 107 a atendente que neste momento já não tinha mais fichas em suas mãos finas. Sai da livraria e caminhei pelo calçadão da Rua XV, driblando o movimento das pessoas que caminhavam ao contrario dos meus passos. Inquieto e réu confesso com calor, cercado de vitrines decoradas com pompas natalinas, percebi que depois de quase dois anos morando longe de Curitiba, a cidade parece me engolir e depois cuspir no chão em situações como esta, talvez seja a sensação mais aceitável para eu me confortar na minha cidade cinza-pátria. Pensando bem tudo foi culpa do Proust em prateleira errada.