quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Um 2011 novo velho ano


A gente acha que sabe alguma coisa, quando ao entrar em uma lanchonete, escuta da proprietária, a prova real daquilo tudo que cansados ficamos ao lembrar. Durante o dia, bueiros com tampas da década de 70 estão visíveis – à noite, lixo da boca do lixo. Na frente ao antigo Cine Condor, pombas desafinam no caminhar, pode ser a invasão do crack, cego diante das autoridades e honoris causa na mão do moleque, que hoje, também pode vestir terno e comprar perfume importado. Viajar pela Curitiba que cresci é algo perigoso, não pelas narrativas do Dalton Trevisan – aliás, nem gosto do Passeio Público e quando menino tinha medo do Colégio Tiradentes.

Na Curitiba que gosto, encontro personagens anônimos, recém saídos do imaginário herdado do meu pai e avô paterno, que muitas vezes, reconheço pelo entusiasmo da lembrança.

Deixo a sombra da cidade para voltar ao final de ano, época de estabelecer novas metas, exigir promessas, comer lentilha, saltar sete ondas, usar amarelo, branco, enfim, semana de viagens, filas homéricas em aeroportos e rodoviárias – pedágios mais caros. Se no litoral, guarda-sol e repelente, poucas coisas piores que queimaduras e mosquitos.

Pode parecer falta de linearidade na crônica, talvez, seja mesmo isso que acontece, mas pelo tom das férias, nada pode ser mais irritante que uma linearidade costumeira que carregamos nos outros 330 dias do ano. Quando penso que fechamos a primeira década do século XXI, sinto quantas coisas passaram pelos bondes da vida. Saímos de uma geração que ainda ouvia walkman como ostentação do máximo tecnológico, agora entramos na que mostra com detalhes íntimos a rua da casa do seu tio no litoral catarinense – ao mesmo tempo, milhares de pessoas não sabem nem utilizar um computador. Paradoxos da vida, chavão, mas confesso e verdadeiro.

Na Curitiba de tantas árvores e radares, tecnologia e praças com nomes europeus, caminho por casarões abandonados e reformados – na Rua Riachuelo, um antigo quartel será local de salas de cinema, dessa vez, generais serão lembranças, não fotografias nos filmes.

A proprietária do começo da crônica, relatou que foi assaltada, às 8 e meia da manhã de uma semana de dezembro. Fica claro que ladrões acordam cedo também.

Alô, Beto Richa, tarifaço no busão, qual sua participação? Alunos, não os de avental do grupo Tiradentes (como escreveu o Dalton), indagam na rua XV. Quantos fantasmas nas conversas da boca maldita, não importa, o cheirinho do café da boca, ilude todos eles, turistas e curitibanos.

Passar pela cidade sem relatar Atlético e Coritiba é deixar de lado a parte vermelha e preta e a verde da cidade. Que a rivalidade esteja no campo e na arquibancada, não sejamos idiotas em acreditar em paz entre as torcidas, mas façamos nossa parte, incentivando que rivalidade não tem nada a ver brigas e coices, que nem os cavalos do regimento Dulcidio fazem mais. Mesmo que nesta década o meu Atlético tenha ganho muito, nascido verdadeiramente para o país e América, já, eles: isso aquelas promoções da coca-cola explicam – ioiô (meus amigos coxas sabem dessa verdade, não é preciso ser expert em matemática).

Ainda que tenham calado a pedreira, não tem sensação melhor que ver a casa do Leminski levado por seu pai e ali, perceber que entre aquelas árvores, sinto muitos dos versos do poeta.

Final de ano, antes dos bancos fecharem, fico on the road pelas calçadas da cidade. Um 2011, com muita Curitiba na lembrança. (aos que são de outras cidades, substituam o nome da cidade pela qual desejarem). Como diz a canção: – o esforço pra lembrar, é a vontade de esquecer.


* Los Hermanos, trecho da letra, "O vento", de Rodrigo Amarante.



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