Anteriormente os tempos eram outros, convenhamos, bem diferentes, principalmente nas lotéricas. Talvez uma das maiores transformações na última década foi o cenário de uma casa de apostas, deixando de lado esse posicionamento de jogos cifrários para o caos utilitário do cotidiano.
De cosmopolita em atrair apostadores vislumbrando a conquista dos prêmios milionários e outros, dispostos em apostar no jogo do bicho. Nesses idos as escolhas em leão, vaca, porco, galinha e etc eram normais no Brasil, ao lado da loteria esportiva, que tinha em sua zebrinha simpática a vitória contra a coluna do meio.
O derramamento moderno provocou nas casas de apostas o aspecto das portas do inferno. Esta metáfora é o que sobrou do caos urbano da vida nos centros urbanos.
Conta um senhor aposentado que sua sogra sempre dizia - lotéricas são o caminho para o inferno. Os familiares de outros estados sentem o cheiro da aposta ganha, vizinhos começam a sorrir, exibindo a falta dos molares, alguns, apenas pedem um troquinho para a troca da caixa da água. Sorrindo aos presentes em fila entre correntes amarelas de plástico ele contava as peripécias da finada mãe da sua esposa. Aos passos do aumento das pessoas, tínhamos ali uma extensão de uma sala de estar, mas dessa vez os estranhos pareciam familiares, tamanha era a afinidade em dividir os assuntos.
Não adianta dizer que os filhos de Deus não gostam de jogatina, mesmo quando ela é validada pelo próprio governo, afinal, você conhece algum acertador dos seis números da mega-sena? - perguntava ele para a menina de uns doze anos na fila com o boleto do serviço de internet para pagar. No seu silêncio risório ela não respondia, certamente fora educada para não conversar com estranhos, por mais que a sala de estar tivesse até cafezinho para os clientes. Clientes? Estes são minoria, um único caixa é responsável pelos jogos, outro, para idosos e gestantes, mais dois fecham a matemática do atendimento - estes, podemos dizer é o dantesco para os pagamentos.
Na família nem as rinhas de galo temos mais, contava para o colega dos quarenta minutos de fila. Pela outra ponta uma senhora reclamava da demora. A menina que precisava desviar o olhar dos caixas para não responder o homem com discurso religioso apegado as apostas. Já não adiantava o que os outros pensavam - vocês não sabem atender, não se pode atender tratar bem quem nos trata tão mal, criticava uma cliente.
Como estava no limite do dia para o pagamento da fatura do cartão de crédito e a fila com todos os seus personagens não findava, liguei para minha esposa.
- Quanto é o juro? - perguntei.
- Cartão de crédito é lá no alto das favas, mas ele não vence hoje.
A vergonha de estar a quase uma hora na fila da lotérica enganado era o pior. Disse para a minha esposa que foi uma dúvida que surgiu após ler uma notícia estampada na capa de um jornal na revistaria. Ao vivo para evitar o desperdício das horas, pedi uma raspinha, com sorte ou sem ela, ali poderia estar uma quirerinha extra para o mês.
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