sexta-feira, 29 de abril de 2011

Filhos da mãe







Normalmente as pesquisas de opinião esbarram no contentamento ou descontentamento dos envolvidos, fato que normalmente ocorre em épocas de pleitos eleitorais. Nas épocas que sobram sem a disputa entre candidatos vinculados aos noticiários, acabamos por não perceber outras pesquisas. Falta de atenção nossa? Pode ser, afinal, quantas pessoas conhecemos que foram entrevistadas por estes institutos de pesquisa?
Particularmente nunca fui indagado sobre minha idade, time de preferência, escolaridade etc. Os mais céticos afirmam que jamais foram ou conheceram alguém entrevistado por algum instituto. Por vezes vemos responsáveis por estas pesquisas de opinião reclamando da população brasileira, que acaba prejudicando dados de IBGE. Ora, quem sabe um dos culpados desse silêncio sejam as próprias pesquisas – violência urbana é um dos itens? Se não, aqueles mapas dos homicídios, chamados de “manchas”, aparecem ilustrados em páginas de jornais e comentados em bancadas de telejornais, atingindo milhões de brasileiras em suas casas.
Em uma semana que foi divulgada uma pesquisa sobre “Um estado que lê?”, promovida por o maior jornal paranaense em parceria com outros institutos, ficamos com a mesma sensação dos brasileiros que não caminham até o portão de suas casas para responder sobre a renda da família.
Diante dos dados sobre a leitura no Paraná, infelizmente tenho que desmontar o argumento de Borges, certamente um dos maiores nomes da literatura mundial - “siempre imagine que el paraíso sería algun tipo de biblioteca”. Afinal, se o paraíso é algum tipo de biblioteca, míseros 7% leem em bibliotecas, apesar que o triplo disso, consultam obras em bibliotecas. Talvez o ficcionista argentino mudasse sua teria após ler esta pesquisa, ou ainda, chamasse o paraíso de casa – 81% viram páginas em seus domicílios.
Ainda envolvido pelos números, quando na verdade, muitas vezes somos vistos apenas como números, basta pensar no número do título de eleitor, cpf, rg, data de nascimento, principalmente quando descobrimos que não temos idade para tomar vacina contra a gripe – isso é terrível para épocas de vésperas de inverno. Enfim, os dados ainda chamam atenção para o prazer ser superior sobre a falta de paciência, praticamente o dobro é a vantagem do prazer – o leitor é sempre sincero. E aos que declararam não ter tempo, mau sabem que dentro da leitura o tempo é apenas uma eternidade folheada.
Quanto a porcentagem de números lidos pelos paranaenses, acredito que a média apesar de ainda não passar perto da desejada por professores, escritores e donos de livrarias, pode ser chamada de interessante – 8,53% por ano.
Quem sabe uma apuração maior sobre o desinteresse nas bibliotecas e a aquisição de livros seja muito mais que a breve explanação que escrevo aqui – bibliotecas municipais jogadas para mínimos interesses em aquisições de obras, além de espaços cercados de problemas sonoros. Já no campo do mercado de livrarias o preço cobrado por um livro é alto demais para a realidade de mais de 60% da população brasileira.
Ainda é preciso dizer que mais da metade dos leitores paranaenses não conhecem nenhum autor paranaense, se olharmos para os números (64%), nos perguntamos o que os entrevistados leem? Cada um com suas preferências, mas temos poetas, romancistas, cronistas, dramaturgos de renome nacional filhos do estado ou domiciliados há muitos anos por aqui. Desconfio que muitos leitores não gostam de ler as orelhas.
Termino dizendo que ser filho da mãe é ser leitor no Paraná.

sábado, 23 de abril de 2011

O conselho de Nelson



Sou um aficcionado por chocolates – talvez seja um dos meus maiores pecados. Afinal, como afirmou Nelson Rodrigues em entrevista ao Otto Lara Resende: jovens, envelheçam. Assim, não existe roteiro algum que desvie a velhice que perseguimos. Tinhosamente ela chega sem avisar, passa por nós, muitas vezes é pelo espelho que descobrimos essa hóspede – que não faz check-in.

Nesta época do ano em que os chocolates estão dominando nossas cabeças, basta uma entrada em qualquer corredor de supermercado e estamos no paraíso criado na literatura por Roald Dahl.

O leitor pode se perguntar, até agora o espaço é sobre velhice ou chocolate – talvez, eu possa responder, sem a mínima pretensão de comprovar os fatos, mas muito mais baseado em pesquisas que dizem sobre o aumento de diabetes em chocólatras. Dessa vez o assunto não vai ficar no campo do envelhecimento no sentido de doenças.

Em um final de semana de Páscoa, digamos que o momento-chave ocorreu durante a semana, quando decidi juntamente com a minha esposa a não compra de chocolates para presentear outros, nem a nós. Não foi um ato de revolta contra o capitalismo da época, transformando culturalmente a sociedade, adoçando bocas com chocolates. Muito menos contra a sistematização dos supermercados e suas decorações em massa – redundâncias da publicidade pascoalina.

Talvez, tenhamos entrado no campo do que o Nelson Rodrigues disse, sem saber direito, atribuímos essa ação pela idade que nos estaciona e multa.

Não foi preciso vestir a camisa do personagem Charlie, criado por Dahl em A Fantástica Fábrica de Chocolates, por mais que os preços dos chocolates estejam acima da tabela dos gastos de milhões de brasileiros. Muito menos sonhar com as produções de Willy Wonka.

Que venha o sábado de malhação do Judas.