sexta-feira, 20 de maio de 2011
Dias de Roberto Benigni
sexta-feira, 6 de maio de 2011
Só as mães são felizes
Tropeçou entre sacolas com presentes promocionais do dia das mães, nada que fosse percebido pela multidão afoita em busca do promoção mais afável. Não tinha esse ideal mesmo, sua timidez era notável no círculo de conhecidos, ser visto quase cambaleando em plena metade da tarde de sexta-feira seria terrível. Olhar despretensioso para as vitrines e pronto, nosso herói estava pronto para continuar sua saga até o destino planejado.
A cada loja vista com seus cem vendedores e outros trinta clientes, não podia afirmar com exatidão, qual porcentagem ali seria consumidor. Entre essa incerteza, sabia que a sua era mera curiosidade. Não suportava o tom módico dos vendeores, que para cada frase, anunciam adjetivos para colorir ainda mais simples peças de roupas nas araras. Perguntado sobre a possibilidade de mudar de operadora de celular, pela vendedora com espírito mercantil, agradeceu, nem celular tinha mais. Ela insistia com os planos pós, pré, tudo virou absurdo para o herói. Quando já tinha passado da seção dos celulares, a mesma voz – senhor, parcelamos em seis vezes no cartão de crédito.
Incomodado pela presença estritamente comercial da semana, voltou pensar no tropeço despercebido entre duas sacolas de presentes dos dias das mães. Acostumado a passar pelo calçadão do centro da cidade, região de muitos comércios, algo comum em grande parte das cidades. Talvez, chame a atenção no citado calçadão sua linearidade, logo em uma cidade que dependendo do olhar, literalmente se está mais próximo do céu ou do inferno – paradoxos herdados dos poemas barrocos, não?
Passar pelo local diariamente na correria do caminho do trabalho é não verificar muitos dos personagens que ali estão todos os dias, não somente emoldurados em semanas de datas com caráter comercial. Mas o que ganha força no meio dos transeuntes é o serviço utilitário para os caminhantes pelo centro da cidade. Somados aos alto falantes das lojas mais populares com suas promoções do dia das mães, disputam o espaço sonoro os vendedores de bilhetes de jogos – conta um amigo que o jogo do bicho não pode ser anunciado aos quatro cantos, mas é o que mais oferece possibilidades de ganhos. Contrários as sonoridades dos comerciários, despercebidos no meio da multidão estão os trabalhadores de segmentos da sociedade que prestam muitos serviços não comentados por seus usuários.
Quantas pessoas você conhece que utiliza os serviços dos detetives particulares, tarologas ou as acompanhantes? Certamente elementos do imaginário popular ou ainda da prática social. Talvez, esses profissionais sejam a cara do que podemos chamar de discrição, algo que muitas vezes vai de encontro com os seus usuários.
No jogo de cena proporcionado pela cidade aquele tropeçar entre as sacolas de promoções de dia das mães, que misturadas aos santinhos desprezados pelos passantes do calçadão, ajudam emporcalhar a cidade e criar uma sensação de falta.
O movimento das filipetas das festas universitárias do fim de semana, dessa vez perderam o espaço para o domingo de dia das mães. Podem dizer que o dia da mãe ou do filho da mãe é todo dia – mas não adianta contradizer o comércio, afinal na boca de um vendedor estará presente “a moda” que você deve comprar.
Afinal, só as mães são felizes.