sexta-feira, 20 de maio de 2011

Dias de Roberto Benigni

[imagem retirada do blog Nossa Cara SP - http://nossacarasp.blogspot.com/ ]





Dia desses lembrei de uma fala do escritor Cristovão Tezza, segundo qual os classificados de jornais não trazem anúncios para contratações de romancistas, poetas, dramaturgos, poetas etc. Com a recente graduação em licenciatura - ou deformação na mesma (termo usado primeiramente pelo escritor Miguel Sanches Neto), sinto o incômodo de parafrasear a ideia do Tezza - os classificados de jornais não trazem anúncios de contratação de professores normalmente. Quem tem essa tarefa aqui no Paraná é um orgão da secretária de educação do estado.

Semanalmente muitos professores, não importa se é formado há cinco meses ou vinte anos, buscam vagas ofertadas pelas famosas contratações temporárias, algo que já faz parte de um folclore educacional por aqui.

A tormenta de primeiro ano de transição dos governos federais e estaduais é difícil para a sociedade em geral, não temos a ideia de como as coisas vão caminhar - tememos muito mais pelo descrédito herdado pelos anos a fio de uma política ausente, que pelo momento, parece. Agora, nestes ínicios letivos, a educação nos moldes das chamadas para contratações temporárias, fica perdida entre o encontro e desencontro do atual e do passado governo.

Diferentamente do posicionamento do escritor radicado em Curitiba há tantos anos e autor de romances que margeiam muito da minha identidade enquanto leitor, não encontrar nos classificados anúncios de vagas para professores com uma demanda que supra a real necessidade do ensino, é certamente uma cultura que delega a este genêro dentro do jornal uma forte aproximação com o mercado imobiliário, automobilístico e outros serviços não admitidos pelos seus usuários. Porém, por outro lado, é uma ausência significativa, que foge da prática autoral e talento necessários para os escritores, conforme brinca Tezza.

No périplo destes professores em busca de uma contratação temporária é uma constante. Dias atrás, estava presente em uma das centenas de seções públicas necessárias para conseguir uma vaga. Sozinho, prosseguia na leitura de Nação Crioula, romance epistolar do escritor moçambicano Agualusa - repentinamente deixar espacar a leitura e comecei prestar atenção na conversa de um grupo de professores.

Discursos exaltados sobre a realidade da educação brasileira, um deles defendia seu entusiasmo amparado nos seus vinte e poucos anos. Ao escutar as declarações, um professor mais velho soltou: Nacionalismo de Policarpo. Sem entender o sentido, o mais novo retrucou: Policarpo?

- Sim, estimado professor.
- Não sei quem é.
- Você é brasileiro?
- Claro.
- Certeza mesmo?
- Certeza absoluta.
- Não estudou literatura na escola?
- Estudei ...

Aos poucos a conversa entre eles perdeu força mediante aos números chamados lá no palco. Uns saiam contentes com as vagas, outros lamentavam em silêncio a eliminação momentânea e a certeza de precisar voltar para as agruras das próximas seções.

- Seremos a linha infinita, dizia uma professora em alto tom.

Na semana seguinte, quando preparava as pernas para ir para mais uma seção pública de chamada de professores temporários no estado, soube que não haveria, pois o auditório utilizado para as seções seria utilizado pela escola que é proprietária do espaço para um evento de folclore.

Ser professor é ter a certeza que a vida também é bela e muitas vezes folclórica.














sexta-feira, 6 de maio de 2011

Só as mães são felizes



Tropeçou entre sacolas com presentes promocionais do dia das mães, nada que fosse percebido pela multidão afoita em busca do promoção mais afável. Não tinha esse ideal mesmo, sua timidez era notável no círculo de conhecidos, ser visto quase cambaleando em plena metade da tarde de sexta-feira seria terrível. Olhar despretensioso para as vitrines e pronto, nosso herói estava pronto para continuar sua saga até o destino planejado.

A cada loja vista com seus cem vendedores e outros trinta clientes, não podia afirmar com exatidão, qual porcentagem ali seria consumidor. Entre essa incerteza, sabia que a sua era mera curiosidade. Não suportava o tom módico dos vendeores, que para cada frase, anunciam adjetivos para colorir ainda mais simples peças de roupas nas araras. Perguntado sobre a possibilidade de mudar de operadora de celular, pela vendedora com espírito mercantil, agradeceu, nem celular tinha mais. Ela insistia com os planos pós, pré, tudo virou absurdo para o herói. Quando já tinha passado da seção dos celulares, a mesma voz – senhor, parcelamos em seis vezes no cartão de crédito.

Incomodado pela presença estritamente comercial da semana, voltou pensar no tropeço despercebido entre duas sacolas de presentes dos dias das mães. Acostumado a passar pelo calçadão do centro da cidade, região de muitos comércios, algo comum em grande parte das cidades. Talvez, chame a atenção no citado calçadão sua linearidade, logo em uma cidade que dependendo do olhar, literalmente se está mais próximo do céu ou do inferno – paradoxos herdados dos poemas barrocos, não?

Passar pelo local diariamente na correria do caminho do trabalho é não verificar muitos dos personagens que ali estão todos os dias, não somente emoldurados em semanas de datas com caráter comercial. Mas o que ganha força no meio dos transeuntes é o serviço utilitário para os caminhantes pelo centro da cidade. Somados aos alto falantes das lojas mais populares com suas promoções do dia das mães, disputam o espaço sonoro os vendedores de bilhetes de jogos – conta um amigo que o jogo do bicho não pode ser anunciado aos quatro cantos, mas é o que mais oferece possibilidades de ganhos. Contrários as sonoridades dos comerciários, despercebidos no meio da multidão estão os trabalhadores de segmentos da sociedade que prestam muitos serviços não comentados por seus usuários.

Quantas pessoas você conhece que utiliza os serviços dos detetives particulares, tarologas ou as acompanhantes? Certamente elementos do imaginário popular ou ainda da prática social. Talvez, esses profissionais sejam a cara do que podemos chamar de discrição, algo que muitas vezes vai de encontro com os seus usuários.

No jogo de cena proporcionado pela cidade aquele tropeçar entre as sacolas de promoções de dia das mães, que misturadas aos santinhos desprezados pelos passantes do calçadão, ajudam emporcalhar a cidade e criar uma sensação de falta.

O movimento das filipetas das festas universitárias do fim de semana, dessa vez perderam o espaço para o domingo de dia das mães. Podem dizer que o dia da mãe ou do filho da mãe é todo dia – mas não adianta contradizer o comércio, afinal na boca de um vendedor estará presente “a moda” que você deve comprar.

Afinal, só as mães são felizes.