Dia desses lembrei de uma fala do escritor Cristovão Tezza, segundo qual os classificados de jornais não trazem anúncios para contratações de romancistas, poetas, dramaturgos, poetas etc. Com a recente graduação em licenciatura - ou deformação na mesma (termo usado primeiramente pelo escritor Miguel Sanches Neto), sinto o incômodo de parafrasear a ideia do Tezza - os classificados de jornais não trazem anúncios de contratação de professores normalmente. Quem tem essa tarefa aqui no Paraná é um orgão da secretária de educação do estado.
Semanalmente muitos professores, não importa se é formado há cinco meses ou vinte anos, buscam vagas ofertadas pelas famosas contratações temporárias, algo que já faz parte de um folclore educacional por aqui.
A tormenta de primeiro ano de transição dos governos federais e estaduais é difícil para a sociedade em geral, não temos a ideia de como as coisas vão caminhar - tememos muito mais pelo descrédito herdado pelos anos a fio de uma política ausente, que pelo momento, parece. Agora, nestes ínicios letivos, a educação nos moldes das chamadas para contratações temporárias, fica perdida entre o encontro e desencontro do atual e do passado governo.
Diferentamente do posicionamento do escritor radicado em Curitiba há tantos anos e autor de romances que margeiam muito da minha identidade enquanto leitor, não encontrar nos classificados anúncios de vagas para professores com uma demanda que supra a real necessidade do ensino, é certamente uma cultura que delega a este genêro dentro do jornal uma forte aproximação com o mercado imobiliário, automobilístico e outros serviços não admitidos pelos seus usuários. Porém, por outro lado, é uma ausência significativa, que foge da prática autoral e talento necessários para os escritores, conforme brinca Tezza.
No périplo destes professores em busca de uma contratação temporária é uma constante. Dias atrás, estava presente em uma das centenas de seções públicas necessárias para conseguir uma vaga. Sozinho, prosseguia na leitura de Nação Crioula, romance epistolar do escritor moçambicano Agualusa - repentinamente deixar espacar a leitura e comecei prestar atenção na conversa de um grupo de professores.
Discursos exaltados sobre a realidade da educação brasileira, um deles defendia seu entusiasmo amparado nos seus vinte e poucos anos. Ao escutar as declarações, um professor mais velho soltou: Nacionalismo de Policarpo. Sem entender o sentido, o mais novo retrucou: Policarpo?
- Sim, estimado professor.
- Não sei quem é.
- Você é brasileiro?
- Claro.
- Certeza mesmo?
- Certeza absoluta.
- Não estudou literatura na escola?
- Estudei ...
Aos poucos a conversa entre eles perdeu força mediante aos números chamados lá no palco. Uns saiam contentes com as vagas, outros lamentavam em silêncio a eliminação momentânea e a certeza de precisar voltar para as agruras das próximas seções.
- Seremos a linha infinita, dizia uma professora em alto tom.
Na semana seguinte, quando preparava as pernas para ir para mais uma seção pública de chamada de professores temporários no estado, soube que não haveria, pois o auditório utilizado para as seções seria utilizado pela escola que é proprietária do espaço para um evento de folclore.
Ser professor é ter a certeza que a vida também é bela e muitas vezes folclórica.
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