sexta-feira, 11 de abril de 2008

O avesso da razão.





Ultimamente o rastro de fragrâncias tem depositado seu valor imoral sobre o lado mais frio das cobertas. Perdido em silêncio, perturbado por ruídos da rua, onde um, ou mais meninos conseguem extravasar suas desventuras premiadas pelo sacrifício de conviver e tentar não ser notado nas ruas bem iluminadas da cidade. Nas ultimas noites nem os galos tem cantado mais, a televisão reprisa cenas passadas em outras estações, nada parece ter gosto, o pouco que ainda atrai, esta na agonia de escutar uma bela canção, mas não significa muito, aonde esta você para escutar, todas as frases e os enganos penitentes da noite. A boca seca não profere nenhuma palavra, apenas sensibiliza-se pelos pensamentos nada cometidos de vontades próprias. As escuras refaço caminhos um dia feitos com felicidade, mas ao mesmo tempo vem a realidade e retoma que toda a verdade, agora não é nada mais, talvez um pouco do que sobrou da realidade, afugentada de sonhos, delírios e barras brancas de neve. Talvez, não devesse, mas existe uma força interior, um grito anestesiado, que não pode hibernar, quando a chance de viver e conseguir ser mais e feliz seja escrever, como fiz naquela madrugada de final de março.



5:17, os galos desalmados de cantos desafinados insistem em cantarolar, aquela sinfonia repetida, que anuncia um novo dia. Entre uma mala de viagem, suja dos chãos de rodoviárias, um som desligado e estragado, lembranças brancas e nuas chegam até meu coração leve e fadado a não esquecer. Confesso, nos últimos dias fui um ator dissimulado, um profissional em fabricar angustias. Não diga nada! Não diga, esta madrugada é minha vez de escrever. É tão belo admirar este teu silencio, piedoso de bondade. O mundo todo dorme, alguns não dormem, mas acompanhados dos seus caprichos seguem noite a dentro com todo o sorriso estampado em seus largos rostos. Vou contar, não ria, talvez seja simples, ou quem sabe, ridículo. O ridículo tantas vezes é o lado belo da vida, somente no ridículo das atitudes, estão as chances de conseguir encontrar um sorriso emoldurado. Hoje comi um alpino, vagarosamente o deixei sacolejar em minha boca, percorrendo todas as camadas da boca, inclusive preenchendo os espaços da língua. Pouco a pouco pus-me a imaginar uma criança que conta os segundos para olhar pelo vidro embaçado e escrever seu nome, será que todas as vezes ele usará as mesmas letras? Pouco sabemos, talvez o vidro embaçado, desapareça, assim como as flores e a primavera muitas vezes são apenas folhas e uma estação no calendário. Porém, a embalagem do alpino resiste aos embalos do meu bolso, e consegue mostrar lembranças brancas e doces de momentos em que estive feliz em minha vida. O grito não vai passar a janela do quarto, nem atravessar as portas internas do apartamento, mas preciso que você leia, sinta, descubra, perceba o significado que tens em meus momentos em que não sou somente solidão.

Talvez tudo. Talvez a minha angustia. Talvez um passado cantante com toda a força um manifesto para o futuro.
Ainda não é 5:30, meus pés estão gelados, meus braços finos desacompanhados, mas as lembranças insistem em desviar todos os obstáculos criados por este ser repleto de caprichos, que prefere ir dormir, antes do dia nascer. Vou sonhar, mas não vou chorar, aliás, patético demais chorar pelo vácuo de alguém que ama demais.
Os galos desalmados de cantos desafinados emudeceram. Os sentimentos ganharam novas cores e contornos, a madrugada em Curitiba é sempre mais longa e teimosa.


As madrugadas passaram, pouco mudou, mas o pouco que mudou, é suficiente para eu escovar os dentes com mais felicidade. A cidade não parou, o inverno ainda não maltratou as costas calejadas, o silêncio é vitrine da respiração vilependiada, o resto do que sobrou do último punhado da tempestade, ainda condecora as avenidas mais sofridas da cidade.
O dia mudou na últimas 24 horas, um sorriso carregado de sonhos doces encontrou, sentiu seus olhos vibrarem, seu coração pulsar, como estivesse na frente de uma orquestra que celebra os sonhos e desventuras de Mozart em plena noite de céu limpo, antes da chuva chegar e acalantar aquele momento para sempre. Viver normalmente é adormecer com as incertezas e acordar com as surpresas belas de esparadrapos que ajudam a curar um coração.

Depois da chuva, vem a febre, e os delírios dos sonhos renascidos.



Um comentário:

Anônimo disse...

A sensatez na escrita é algo lindo.


adorei.