- Boa tarde, senhor.
- No que posso ajudá-lo?
Antes mesmo de eu erguer os olhos a dupla indagação já tivera ganhado vida. – Não, somente estou olhando. Entregou-me um cartão com o número 107. – Qualquer coisa entregue o cartão na hora do pagamento. Tudo bem.Comecei a percorrer prateleiras de livros e mais livros com classificações mais variadas possíveis. Vez ou outra percebi que a distribuição não estava tão correta, por exemplo, encontrar um – Em Busca do Tempo Perdido, exposto em prateleiras de literatura inglesa não foi nada sincero, imagino um dialogo entre um cliente e um vendedor:
- Por favor, você poderia me ajudar a encontrar um livro?
- Sim, qual é?
- Em Busca do Tempo Perdido. Ah, sim, somente um momento. Caminha apressadamente até ao catálogo informativo e em desespero volta com a informação. – Nós não temos um exemplar disponível aqui. Um sorriso amarelo e meia vontade de pegá-lo pelo pescoço e dizer, jovenzinho, o livro têm, porém ele está colocado na prateleira da literatura inglesa. E até onde sei o Louvre, Proust e Molière são franceses. Deixo de lado este legado de imaginar muito além daquele misero erro entre tantos livros empilhados lado a lado. Voltei à ficcionalidade da realidade e continue na nau de navegar atrás de um livro. O aroma de uma livraria é único, nem mesmo as fragrâncias mais sublimes do mundo são capazes de transpor o cheiro que as páginas de um livro novo exalam. Embriagado pelos aromas dos mais diversos livros comecei a olhar com uma visão mais periférica do espaço. Percebi que estava cercado por outras 106 pessoas, melhor, 106 efusivas pessoas. Todas com um descontrole apropriado para (re)visitar uma livraria. Sorrisos, abraços, frases altas para comunicar que estavam frente ao um livro. Aquilo foi me despertando para subtrair os pormenores e ir atrás de constatações perenes a nossa realidade social. O MEC divulgou que o índice de leitura no Brasil é de 1,8 livros por pessoa ao ano. Isto significa dizer que grande parte dos brasileiros tem o hábito de ler um livro a cada seis meses, quer dizer, não chegam a terminar um dos dois. Qual seria a alternativa para erradicar este índice? Talvez, este índice tenha razão com as duas principais razões apontadas pelo Ministério da Educação: o alto preço dos livros no país e o desaparelhamento das bibliotecas públicas. De dois contrapontos podemos ajudar a transformar um, as bibliotecas públicas dos municípios. Entre os dois este seria o mais fácil de conseguir atingir. Baixar o preço do livro, que é altíssimo para os padrões salariais da grande massa de brasileiros é uma tarefa que é dependente de impostos. Mas, as editoras poderiam ofertar um número maior de exemplares para abastecer as bibliotecas e principalmente as escolas. Outro passo seria uma divulgação e esclarecimento para a população sobre o empréstimo de obras e contribuiria para levar o país a aumentar o índice de leitura e leitores.
Chegar até este ponto acima não era o principal desta postagem, porém certos caminhos se bifurcam e não tem como sair do emaranhado de sentidos. Senti como voltasse a escutar a atendente novamente a dizer - Qualquer coisa entregue o cartão na hora do pagamento. Continuei a nau da procura de algum livro interessante, mas continuava com a companhia das 106 efusivas pessoas e mais algumas que chegaram ao intervalo que estive recluso a pensar nesta problemática. Acabei por não levar nenhum livro, devolvi à ficha 107 a atendente que neste momento já não tinha mais fichas em suas mãos finas. Sai da livraria e caminhei pelo calçadão da Rua XV, driblando o movimento das pessoas que caminhavam ao contrario dos meus passos. Inquieto e réu confesso com calor, cercado de vitrines decoradas com pompas natalinas, percebi que depois de quase dois anos morando longe de Curitiba, a cidade parece me engolir e depois cuspir no chão em situações como esta, talvez seja a sensação mais aceitável para eu me confortar na minha cidade cinza-pátria. Pensando bem tudo foi culpa do Proust em prateleira errada.
- Por favor, você poderia me ajudar a encontrar um livro?
- Sim, qual é?
- Em Busca do Tempo Perdido. Ah, sim, somente um momento. Caminha apressadamente até ao catálogo informativo e em desespero volta com a informação. – Nós não temos um exemplar disponível aqui. Um sorriso amarelo e meia vontade de pegá-lo pelo pescoço e dizer, jovenzinho, o livro têm, porém ele está colocado na prateleira da literatura inglesa. E até onde sei o Louvre, Proust e Molière são franceses. Deixo de lado este legado de imaginar muito além daquele misero erro entre tantos livros empilhados lado a lado. Voltei à ficcionalidade da realidade e continue na nau de navegar atrás de um livro. O aroma de uma livraria é único, nem mesmo as fragrâncias mais sublimes do mundo são capazes de transpor o cheiro que as páginas de um livro novo exalam. Embriagado pelos aromas dos mais diversos livros comecei a olhar com uma visão mais periférica do espaço. Percebi que estava cercado por outras 106 pessoas, melhor, 106 efusivas pessoas. Todas com um descontrole apropriado para (re)visitar uma livraria. Sorrisos, abraços, frases altas para comunicar que estavam frente ao um livro. Aquilo foi me despertando para subtrair os pormenores e ir atrás de constatações perenes a nossa realidade social. O MEC divulgou que o índice de leitura no Brasil é de 1,8 livros por pessoa ao ano. Isto significa dizer que grande parte dos brasileiros tem o hábito de ler um livro a cada seis meses, quer dizer, não chegam a terminar um dos dois. Qual seria a alternativa para erradicar este índice? Talvez, este índice tenha razão com as duas principais razões apontadas pelo Ministério da Educação: o alto preço dos livros no país e o desaparelhamento das bibliotecas públicas. De dois contrapontos podemos ajudar a transformar um, as bibliotecas públicas dos municípios. Entre os dois este seria o mais fácil de conseguir atingir. Baixar o preço do livro, que é altíssimo para os padrões salariais da grande massa de brasileiros é uma tarefa que é dependente de impostos. Mas, as editoras poderiam ofertar um número maior de exemplares para abastecer as bibliotecas e principalmente as escolas. Outro passo seria uma divulgação e esclarecimento para a população sobre o empréstimo de obras e contribuiria para levar o país a aumentar o índice de leitura e leitores.
Chegar até este ponto acima não era o principal desta postagem, porém certos caminhos se bifurcam e não tem como sair do emaranhado de sentidos. Senti como voltasse a escutar a atendente novamente a dizer - Qualquer coisa entregue o cartão na hora do pagamento. Continuei a nau da procura de algum livro interessante, mas continuava com a companhia das 106 efusivas pessoas e mais algumas que chegaram ao intervalo que estive recluso a pensar nesta problemática. Acabei por não levar nenhum livro, devolvi à ficha 107 a atendente que neste momento já não tinha mais fichas em suas mãos finas. Sai da livraria e caminhei pelo calçadão da Rua XV, driblando o movimento das pessoas que caminhavam ao contrario dos meus passos. Inquieto e réu confesso com calor, cercado de vitrines decoradas com pompas natalinas, percebi que depois de quase dois anos morando longe de Curitiba, a cidade parece me engolir e depois cuspir no chão em situações como esta, talvez seja a sensação mais aceitável para eu me confortar na minha cidade cinza-pátria. Pensando bem tudo foi culpa do Proust em prateleira errada.
2 comentários:
Proust idiota (não entenda isto diferente de uma ironia).
Gostei.
Proust seria um belo incentivo para fazer os alunos entenderam o quanto é prazeroso ler.
Postar um comentário