terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Senhoras




No peso das pálpebras de senhoras

viúvas
solteiras
casadas

vivem com dores das perdas
conjugando verbos transitivos
silenciando nas esquinas

senhoras
estas senhoras

partem na luta de um parto
vagamente brandam
no peso do seio feminino

casadas
solteiras
viúvas

perdem e estão sempre na luta


[descamam o peixe
sorrindo para a vida
cicatrizes de outro dia]

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Coachar



Quantos sapos precisam

estampar pano de pratos
em novembro?

domingo, 25 de outubro de 2009

nada




(Se) resolver piscar
não tentes olhar
na corda da lágrima

(es) esquecida.

sábado, 19 de setembro de 2009

Legendas para um filme




caso quiseres
volto caminhar
para você amar.





parafraseio
ainda
setembro


segunda-feira, 14 de setembro de 2009

15:40



tenho discos
tenho canções

não tenho endereços.


escuto Belchior
vejo Sinha Vitória

penso como a Baleia.


quando parafraseio
sinto como estou sem tempo

já é 15:40?




segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Feriado




Quando cheguei – na ausência

esqueci



soletrei pronomes

velei a chuva



li um novo romance – adormeci

abraçado à capítulos esquecidos



dias inteiros sem sair

fechei no tempo – voltei



para começar de novo – sem desistir

de tudo novo que aprendi


frases soltas

para em papéis – sem cartas

eu falar do amor.





quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Eu te amo, PORRA

O quarto é uma média ampulheta. Sentenciado pelo movimento de silêncios propagados no vácuo disparate – esbraveja, filha da puta! O sentimento ridículo reaparece, vestido socialmente com um bom romance arranhado pelas unhas não aparadas.
Uma volta até a resma das coisas para fazer, nos pedidos e entraves cotidianos – olha no espelho, lembra de Wilde. Sorri para o desgraçado e continuo silêncio. No banho, sente seu corpo se metamorfosear em pequenas gotículas de frio – sorri, o frio externo não é nada perto do interno. Quando se encontra abraçado ao colchão, triunfa – ridículo se sentir assim.
Já no pós sono, pensa, se Pessoa escreveu que todas as cartas de amor são ridículas, sensações inúteis não tem o dever de não ser ridículas também.

Aumenta o som do silêncio na breve e púrpura manhã embaçada. Ainda crê no movimento retilíneo de sorrisos honestos – eu te amo, porra! Isso é canção, mas agora é de todo mundo, sem banalização é claro: eu te amo, porra!


Com a rosa do rosa azul
no claro dos claros
pupilas azuis.

Parafrasenado Eu, no silêncio, no amor e na libertária tarde. Eu te amo, PORRA!

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Agosto



A chuva molha

a rua XV passa
bela



Como é incomodo ficar dentro de casa, fechado por paredes, vendo o sol apenas pela transparência opaca das janelas. O inverno não acabou, parece que ele se tornou secular, nem as manhãs eu tenho prezado mais. A madrugada me consome, aliás, eu consumo a madrugada. Em silêncio posso escutar todos os medos, enfim, assim termino o dia, cansado, sem medo, com uma lentidão digna de uma tarde de segunda.

É um tédio, não fosse um prédio, ali parado, comovido com a cena. Encena a realidade e volta a realizar.

Agosto sem gosto
pingo´s na calçada
ecos desafinados.


Parafrasenado eu, em agosto, como um cachorro não louco.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Férias II





Tardes de julho
canções novas
frio no coração.



















Um precipício ...





sexta-feira, 10 de julho de 2009

Férias






Viajar Curitiba

passear na XV

escutar as bandas do botânico

zelar um céu reprimido.







Estou (sou) de Curitiba.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

A - amado.



papagaio


violetas

cestas


desmaio




é ponto de vista


à vista
otimista
intimista.
Se é junho, se é frio, se é assim .... de se em se em cada segundo do coração parafraseio.


segunda-feira, 15 de junho de 2009

sem relógio.

Junho, inverno ainda não chegou, para o calendário. De resto, tudo muito frio, sem tempo, quase, sem horário.
Parafraseio, para não parafrasear, apenas.



Você me pergunta
eu nada sei
a resposta de tudo.

sábado, 6 de junho de 2009

o vento leva a voz



Aqui
não é ali

ainda
fosse não seria aqui

agora
longe de mim

coisas
são sempre assim.



segunda-feira, 23 de março de 2009

Desiguais azuis.



O dicionário apresenta sem luz ou cenário, a definição de obsessão: sf (lat obsessione) 1 Ato ou efeito de importunar ou vexar. 2 Impertinência excessiva. 3 Preocupação constante; idéia fixa. 4 Med Perturbação causada por uma idéia fixa que leva o doente à execução de determinado ato.
As manhãs são obsessões, principalmente para os práticos, aqueles que são a tradução da vida nos casos, os acasos deixamos para os restos das manhãs. Voltemos a Gregor Samsa, que ao acordar, naquela análoga manhã, viu-se, metaforseando em um inseto. A obsessão de Samsa foi suportar aquele momento, estarrecido em sua cama. Uma manhã mais atenta seria um delito contra o contentamento melancólico dos pingos de chuva a baterem na calha da janela. Não que Samsa não pudesse apenas pensar, mas lembrar era tudo o que precisava, manhãs são colírios e martírios.
O que é mais obsessivo que estar deitado e olhar o teto e no mesmo teto – azul, branco, ou qualquer colorido misturado, ver personagens, que não usam celular para convidar seus amigos para ir a um bar, na sexta à tarde, o ainda, não sabem o qual vantajoso é assistir um programa televisivo na noite de domingo. Quando o personagem acorda e vê do outro lado da condição, uma voz que ecoa mais forte é outro personagem que surge, este usa celular, mas depois da primeira vez que esteve ali, apenas na distração do amor que escorregou naquele dia em que a conheceu. Tantas vezes ele pensou em jogar o celular pela janela – seguiria o conselho do personagem que não usa celular, e acha todo o mundo igual. Está certo, uma parcela dele, parcela tudo, inclusive a tristeza de querer atender ao telefone, mas o telefone insiste em não tocar, deixando, aquele final de quinta, interessante para o que os outros vão pensar.
Nenhum dos personagens usa chapéu – pensou. Usar chapéu é tão démodé dentro do modismo de quem enfrenta o caos da cidade todos os dias enjaulados dentro de um ônibus lotado – de pessoas, caprichos, rostos que não mostram somente rostos.
Viajar, dia sim, dia não. É um trabalho muito mais irritante do que o trabalho do escritório propriamente dito, e ainda por cima há mais desconforto de andar sempre a viajar, preocupado com as lições dos trens, com a cama e com as refeições irregulares, com conhecimentos casuais, que são sempre novos e nunca se tornam amigos íntimos.
O personagem desconfiado está com a visão que vê do outro, que sentado, não vê os programas de domingo, nem atende o celular – o jogou fora, antes, tirou a bateria para depositar no coletor de lixo especial. No teto tem um inseto, não homérico, nem vistoso como o metamorfoseado por Samsa.
Obsessão é virar o rosto sempre para o travesseiro, sem esconder a vontade de ver o mesmo teto - azul, branco, ou qualquer colorido misturado. Obsessivas são as manhãs que chegam sempre para negar a continuidade das cenas que estão ali, narradas acima das nossas cabeças. Não que lê-las nas usuras romanescas não seja tão ou mais obsessivo, pois, nem escolher se optamos pelas páginas impares ou pares, podemos. Pensando bem, as manhãs são assim também, mesmo as não obsessivas. As mais obsessivas são aquelas que deixam os personagens no limite de se arrepender, de sofrer, mesmo que para isto, seja preciso sair do lugar, acordar, despertar. Nem que seja para acordar como Samsa naquela manhã de sonhos inquietantes.
Ainda sem luz ou cenário, porém com muitos personagens o Parafraseando Eu
obsessivamente
está.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

De tudo que ficou.


[entrada de Curitiba -sentido norte do estado/- BR-277]
As férias terminaram. O Parafraseando Eu poderia findar ali no ponto final. Porém quando algo termina a sensação deste algo se expande por todos os lados. Não seria justo eu escrever que terminar algo é ingrato, a resposta mais evidente se descreve da seguinte forma – o período de férias foi produtivo demais, sinto que saio das férias e entro mais calibrado e experiente para a vida.
Quando os Beatles terminaram de produzir o álbum branco – The White Álbum em 1968 – as sensações de John, Paul, George e Ringo e dos milhares de admiradores era que com o termino daquele trabalho, a banda colocava seu nome ainda com mais destaque no cenário musical mundial. A sensação de Chico Buarque ao terminar o último acorde de – Roda Viva no III Festival de Música Brasileira, certamente foi positiva a todos desde daqueles idos de 1967. E como será que Nelson Rodrigues se sentiu com o termino da censura sobre – Álbum de Família que ficou de 1946 a 1965 para ser liberada para os palcos.
Quem chegou até aqui deve estar se perguntando o motivo destes exemplos, eu vos explico que eles estão como referenciais para eu mostrar que terminar sempre deixa um lado bom para todos. Pode ser o final de uma saudade, de uma dor, de um telefonema que não recebia a tempos, de uma chance de provar para os amigos que você lembra deles, que a vida por mais ingrata e injusta que seja na figura de várias “pessoas” que transitam entre a gente ainda temos PESSOAS, com maiúscula mesmo na mesma estrada.
Está quase na hora de voltar à realidade de morar longe de casa. Depois de iniciar o terceiro ano longe dos caprichos de casa, sinto que a saudade aperta, mesmo antes de embarcar. Nos primeiros dias será complicado compartilhar com o silêncio as noites, não olhar pela janela e ver as cachorras, nem sempre atentas as minhas investidas. O mais difícil será não estar em casa com a companhia daqueles que são parte do meu mundo desde que o mundo é mundo, mas, sabemos, que no mundo viver longe é apenas uma distância que não resume nem diminui o amor, pois o amor em minha família eu sempre vou levar, seja em uma esquina de Ponta Grossa, seja em uma quadra com placa pichada de Amsterdan.
As férias acabam tudo que foi ficou, mas vai caminhar adiante. Acreditamos – o menino, os personagens e os lá, lá, lá, de um rio.
A vida (re)começa antes do carnaval chegar. Muito melhor que nos dois anos atrás, agora quando eu chego tenho quem me espera na rodoviária com um beijo, um abraço e principalmente com a companhia de todos os dias. Declaração de amor se faz em final de férias também.


Volto para o caminho, o futuro e a vida.


Scuissiatto


domingo, 8 de fevereiro de 2009

Epifanias de um retrato.


Na realidade tudo é uma invenção, que contada por uma terceira pessoa se torna realidade. John Malkovich toma coca-light, consome milhões de expectadores, embora eu prefira a sua postura como ator. O sucesso de público está muitas vezes, estampado na revista – Time, que o diga, seria pior, se fosse a Caras. Não tão longe da Caras, temos - The Curious Case of Benjamin Button, no país tropical, em que o movimento Tropicália virou mingau – O curioso caso de Benjamin Button, uma adaptação romanesca de 1920. Os percalços mundanos e sofrimentos da população, infelizmente não são de hoje, a Nova Orleans, não o simpático e bonito bairro vizinho aos italianos de Santa Felicidade, já foi palcos de guerras e catástrofes. Quando me deparo com tal constatação, percebo que o mundo de hoje perdeu muito da identidade do que significa respeitar diferenças. Respeitar conivências é fácil.
Somente mais uma coisa, Telavive (semanticamente) é viver, as quatro últimas letras não se deixam desperceber, é o que penso. Quando chego no ano de 2009 e tenho que ler uma nota destas, melhor apagar a luz, passar calor, não lembrar do carnaval e agradecer por no Brasil ainda podermos ver uma bandeiras de outras etnias hasteadas. Não acredito em certos, muito menos em errados, na guerra todo mundo perde. Talvez, a indústria balística lucre, mas isso é outro fator.
“A operação militar terrestre de Telavive contra o Hamas, na Faixa de Gaza, está no segundo dia e aumenta a trágica contabilidade de vítimas, que já ultrapassou os 500 mortos. Esta é uma guerra tão esperada quanto dramática. E ainda sem fim à vista: nem a curto, nem a médio, nem a longo prazo.”

Na realidade nem toda invenção contada por uma terceira pessoa tem validade. Nem no cinema daqui algumas décadas.

Deveria escrever muito mais coisas, mas não posso.

Parafraseando eu e todos os expectadores destas barbáries de cada dia.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

É


Hoje é domingo. Não tem muita coisa diferente no domingo. Domingos normalmente tem gosto e sentido de duas letras “o” separadas por quase todas as outras letras, isso é muitas vezes o domingo. Calor, pouco mais de trinta graus em Curitiba. Ouço Zeca Baleiro, um verdadeiro poeta dedilhando seu violão. A casa está silenciosa, apenas a canção que tem cigarro no nome e o barulho do toque dos meus dedos a tatear o teclado. Se faz melodia é trama de corriqueiras inspirações vespertinas do céu azul desta tarde. A canção já mudou, regravada ficou muito melhor. Estou cansado, sem dormir nas últimas 37 horas. Não pense que eu não tentei. Não posso reclamar a noite acordado tem o lado bom. Muitas coisas acontecem e perturbam. Deve ser normal. Caio Fernando Abreu e tantos outros já escreveram que não dormir é bom. Não leve a sério isso, ou leve, afinal, você sabe o que faz. Maquiavel já dizia – os preconceitos têm mais raízes que os privilégios. A yoga não faz a minha cabeça. Não tomo coca-cola light. Esta tarde estou muito irracional. Despreocupado com o sono que já me incomoda.

Longe de você, não tem graça escrever.
Uma boa tarde minha esquecida tarde.


Parafraseando Eu, objetivo, sem rima, inspiração ou outra conotação.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Janeiro, pouco mais.


(Ah, se o Largo da Ordem fosse sempre essa calmaria ... )



A simplicidade de janeiro foi deixada nas recordações mais reminiscentes. Tardes em que um copo de caldo de cana era ingerido para preencher a seca da garganta, após andar e calejar os tornozelos sob o forte sol de verão. Agora, blusas, casacos e até cobertores são usados, não somente durante a noite. As tardes deste mês um, nos obrigam a cobrir o corpo de alguma forma. Atualmente sair para a rua tem dois tormentos saudáveis: usar roupas inapropriadas para a estação (vista da definição do calendário) e a segunda é a ociosidade de janeiro. Época em que todos os lugares, ou boa parte deles têm gente atrás de lugares para despistar a ociosidade. Não é um erro querer desprezar a ociosidade, porém, em janeiro um dos maiores êxtases é ficar cultivando o ócio nosso de cada dia. Assistir filmes pendentes desde aquelas tardes turbulentas de compromissos e após terminar, jogar o controle remoto no chão e virar para o lado e dormir. Ou ainda, não ter pressa em usar o marca-página e deixar a leitura começar e terminar conforme a sua própria vontade.

A vontade de começar janeiro é sempre próxima uma da outra, a diferença que cada janeiro estamos mais velho (isso para uns é ótimo, já para outros um insulto) na verdade, janeiro é o primeiro mês das nossas promessas de mudanças. Entramos nele com roupas brancas, amarelas, azuis e tantas outras, pulamos sete ondas, olhamos para o céu e procuramos estrelas e planetas, amanhecemos acordados.

Janeiro em seu inicio é sempre assim, como um filme sem fim. E guarda-chuva no coração dessa estação.



Janeiro assim. Invento dentro de mim. Cinza da cidade. Marca página do livro. Caneta falhada. Semáfaro estragado. Beijo da namorada. Enfim. (aos poucos a vida volta ao normal.)


Ócio até mais!


Parafraseando Eu em janeiro de 2009.