O Maracanã com suas gerais grudadas no suor das costas do bandeirinha que há pouco invalidou uma ótima subida do ponteiro direito Maurício pela direita. Na defesa o time rubro-negro se defende com a maestria ainda reluzente da geração anterior de Zico, Andrade, Leandro e cia. A narração televisiva sensibiliza o espectador ao percalço do Botafogo, que há 21 anos não conquista o certame estadual.
- Tá na rede – narrado pela inconfundível voz de Januário de Oliveira. Maurício, o mesmo que teve uma boa jogada impedida indevidamente pelo bandeira, colocou o grito de gol nas gerais e cadeiras do Maracanã - meia hora depois a torcida alvinegra celebrava aquele campeonato carioca de 89. No Olimpo Futebolístico, Mané driblava nuvens e saltava para tocar os raios de sol, sorridente pela volta da magia da jogadeira 7.
Gostava de falar sobre o futebol na manhã seguinte durante o recreio escolar, naqueles passageiros 15 minutos e broncas levianas do inspetor pela demora na formação da fila indiana em que éramos perfilados.
Assistir no estádio ou mesmo ver pela televisão uma partida de futebol é enxergar os heróis que os meninos encontram como mais reais possíveis. Aqueles vinte e dois homenzinhos correndo em um gramado é uma inexatidão completa, nada que a escola ouse conseguir ensinar. Com camisas de clubes variados íamos para os campinhos de areia jogar bola. Vez ou outra aconteciam algumas discussões motivadas pelas bicudas na altura dos pinheiros nos fundos das traves. Gol perdido é perdoado. Já galináceo, não. Então, jogar no gol é uma tarefa dos heróis mais fortes, com suas camisas em tom diferente do restante dos jogadores do próprio time, desafiando todos. Quando fazem defesas de mão trocada, ou ainda, parados no meio dos nove metros e quinze conseguem espalmar um pênalti, são heróis que cada guri enxerga no espelho quando se olha um jogador de futebol.
Os meninos de hoje podem não perguntar ao pai o motivo dos maiores heróis do país não participarem da fase final da Copa do Mundo. Talvez, eles não admitam que meninos de outros paises possam ter heróis com mais capacidade que os vestidos de verde e amarelo.
Um dos causos mais remotos nos dias de hoje são os diálogos entre o pai com suas vicissitudes herdadas da paixão futebolística e o filho que cresce sem espaço em casa para a mesa de futebol de botão.
- Papai, você sempre falou do futebol.
- Sim. Ainda lembro do futebol com bola de meia na escola.
- Era bom?
- Nem fale.
- Pai, e a seleção?
- Fomos mal.
- No vídeo-game o Brasil tem o melhor time.
- Somos pentacampeões.
- E a Espanha?
- Estão bem.
- E a Holanda?
- Ganhou do Brasil.
O ritmo de perguntas e respostas perdia força para a altura da noite que chegava sem pedir licença na sala de casa. Sentado com os tornozelos para trás, ele coloria um destes animes, enquanto o pai tentava formular uma resposta para justificar sobre os erros dos heróis de cada menino envelhecido.
Ele dormiu sem perguntar sobre o que o noticiário mais fala nos últimos dias. Ainda sem entender nada destas manchetes, leva o filho para a cama sentindo o peso de um verdadeiro herói nos braços, como fosse o goleiro que nunca foi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário