Era uma manhã de janeiro. Naquela altura do dia o cheiro de batata e carne de galinha invadia os corredores do Hospital São Lucas em Curitiba. Pai, vô e vó estavam agoniados pela chegada do Bruno – dez e meia, nasceu com pouco mais de três quilos e meio e cinquenta e três centímetros. A obstetra disse que era um recém-nascido grande. Ser personagem de crônica é uma espécie de embarque em “De Volta para o Futuro”, não querendo ser repetitivo, mas toda história moderna começa na maternidade, passa pelos primeiros passos, assopra velinhas nos festejos infantis, chega aos oito anos e esbarra nas lembranças: o álbum de figurinhas de aviões não devolvido pela professora de português, a expulsão no campeonato metropolitano de futebol de salão por uma dividida brusca com um menino da outra quinta série.
O ostracismo da vida adulta criou uma progressão geométrica dos oito anos aos dias de hoje. Não é preciso recorrer aos versos de Aniversário do Álvaro de Campos ou Profundamente de Manuel Bandeira para perceber que a vida mudou, mas o percurso sempre foi o mesmo. Basta pegar as fotografias e escutar as histórias dos meus avôs, ver o quanto mudei, que aquele ideal de ser jogador de futebol hoje se faz nas possíveis ideias dos filhos que ainda vão chamar-me de pai.
Posso estar no dia da comemoração de mais um ano, mas ainda não sou entendido e nem pretendo me especializar em aniversários. Ainda mais depois que passei ser sagitário pela nova classificação do zodíaco. Arrisco dizer pelo fato de ser um autêntico teimoso – o capricórnio pode sair de mim, mas não sairei dele (perdoe, nunca procurei entender o sistema do zodíaco). Teimosia é algo que nasceu comigo no dia 18 de janeiro.
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