sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Mudanças


Se pudesse não olhar o horóscopo aceitaria sua condição de estrangeiro diante da não possibilidade de escolhas. Vislumbrou compra-las nestes sites de compras por lances. Paga duas vezes mais por um signo que não o torne ciumento – mas do outro lado as ofertas se triplicaram em minutos. Aniquilado pela falta de dinheiro, constata a unilateralidade zodiacal como uma das qualidades com quais nascemos.

A outra se pode dizer está no próprio nome de batismo. Por mais aumentativos e diminutivos, além dos apelidos, o nome está impresso em uma identidade que carrega pelo mundo.

Nas conversas familiares escuta de uma tia que seu comportamento tem relação com o signo.

Puxou o pai.

Ainda bem, tia – responde com sua auto ironia vigente.

Essa sua ironia é familiar. Lembro do seu pai adolescente e ironizando tudo.

Não, tia. Minha mãe também é assim.

Ela ficou assim depois que conheceu seu pai.

Desconfiado dessa sabatina familiar obrigou-se perguntar:

E a vida?

A vida está no zodíaco.

É....

O cabelo ainda ralinho e com a feição indefinida para qual lado mais parece – materno ou paterno. Assim a tia terminou essa conversa amparada no zodíaco da família.

Anos mais tarde quando já estava acostumado com as sanções do signo, mesmo sabendo pouco a respeito.

Nunca teve interesse em ler essas revistas de horóscopo que reluzem nas gôndolas de revistarias – não por imposição alguma fora o desinteresse. Nas leituras dos jornais pela manhã percebia a presença do seu signo diariamente sem nunca prestar atenção na sinopse daquelas 24 horas. Confessa que o horóscopo chinês chama muito mais atenção – inclusive marcou a sessão da sua primeira tatuagem na próxima semana inspirada em um macaco – homenagem ao primata correspondente ao seu nascimento.

Tem a sensação de ter escutado de uma vizinha dos seus avôs que a teimosia estaria junto com ele sempre. A data mais concreta para um destaque zodiacal é a infância. Sem saber as imitações infantis dos mais velhos é uma espécie de identidade que aos olhos dos adultos são sinônimos de signo. O contrário, se é que ele é permitido ocorria em uma das perguntas do obsoleto “caderno de confidências” quando ele chegava até sua mão antes de uma professora de Estudos Sociais detê-lo. Olhares para os colegas para ver se os que tinham o seu signo eram também teimosos.

Nesse tempo não existia nada além da curiosidade juvenil que chegava e terminava mais rápido que a mudança de professor entre uma aula e outra da quinta série.

Agora precisa se reinventar zodiacalmente – após esse novo alinhamento da terra tem um novo signo. Não que isso seja o fim, mas começa pensar nas possíveis perguntas que fará para a tia no próximo encontro familiar.


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