Nascemos sob o signo dos avanços tecnológicos, mesmo nossos antepassados tiveram a petulância de assistir muitos nascimentos, que quem sabe, nossos filhos não irão ter oportunidade. Com todas as esferas da tecnologia, também a muito da obsolescência – uma passadinha em alguma loja de eletrônicos e o celular que conversamos com os irmãos em outras cidades, ainda nas últimas prestações do crediário, já é um modelo ultrapassado, vendido por menos da metade do atual.
Em todos os aniquilamentos do consumismo ultramoderno, nenhum talvez seja maior que os avanços dos teclados dos computadores. Para quem transitou pelas teclas das máquinas de datilografar, estranhamento é a música do movimento dos dedos na digitação atual. Ouso dizer, existe uma ausência de musicalidade nos teclados, quanto mais avançado o modelo, distante ficamos. Nem o café preto com pouco açúcar e os cigarros de filtro amarelo mantém a aura das crônicas passadas.
Comecei a crônica naquela manhã de inverno: Rio de Janeiro, sua cor é suas calçadas, ventos do Arpoador, Copacabana de mim – ela não entendia direito, dizia que o Rio Grande do Sul, mais especificamente, Porto Alegre era melhor, dizia ela. Em galhofa, lhe dizia: Buenos Aires esta mais abaixo. Não, prefiro a Casa Tomada ou o Aleph sem precisar sair do sul – respondia ela.
Com o cotidiano e as reclamações fazemos a viagem de nossas vidas. Na semana passada quando cheguei ao Rio, estranhei pelo fato dos engarrafamentos e o caos no aeroporto. Drummond não fosse uma estátua, diria – havia um carro no caminho. Havia muitos carros no caminho. Já no hotel conectado em uma rede sem fio, voltei sem muito pensar nos idos da primeira visita ao Rio. Antes de começar a cantarolar algum samba de Nelson do Cavaquinho, voltei para as leituras cotidianas.
A tecnologia é capaz de mudar a fisionomia das pessoas, avanços dos sistemas de informação contribuem para agilidade das nossas vidas, mas ainda não existe tecnologia que mude o formato das lembranças e a necessidade de pães da água – uns mais brancos, outros, mais queimados.
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