No calor do julgamento do mensalão, muita gente acredita que o cenário político é exclusivo. Não é a culpa das pessoas bombardeadas de noticias vindas da capital federal. A nossa realidade nacional tem mais que o voto dos relatores no STF, as verbas da Copa de 2014 amplamente discutidas, jogos do Brasileirão ou a final da última novela das oito. Não menosprezando os outros fatos, mas talvez um esquecimento coletivo seja a questão da leitura em nosso país, tão discutida nos ambientes escolares.
Por anos a escola, quando acordou lembrou da importância do verbo ler , começou a discursar sobre tal ato. O abismo entre a teoria e a prática sempre foi um problema crônico, principalmente nos pilares sociais – educação, saúde e segurança pública. Não é uma crônica eleitoreira, por mais que o segundo turno tenha há menos de vinte quatro horas encerrado os seus rumos (que as propostas vigorem para o aplauso e uso até mesmo de quem não contribuiu na eleição do eleito), mas é impossível não lembrar dos discursos sobre a leitura, como ela fosse responsável pela felicidade. Qualquer proposta de biblioteca e lá estão crianças e adultos com semblante de felicidade – é o estigma da poesia feliz aprendida nas séries iniciais.
Já que necessitamos da prática, da ação, de tudo aquilo que demonstre diferença dos parágrafos bem construídos em planos de governo, questiono parafraseando o professor de literatura, amigo e colega, João Amálio Ribas – se a leitura é tão falada e argumentada como fonte principal de aprendizado, felicidade e bons modos, por qual motivo a escola não destina um espaço para ela de acordo com o seus próprios pressupostos teóricos? A não resposta é um sinal de pensar o que os alunos estão tirando das leituras “obrigatórias” feitas nas escolas, como requisito de pretexto para desenvolvimento humano. O clássico quando trabalhado é julgado como algo ultrapassado por muitos professores, os alunos não tem a obrigatoriedade de saber mais que o educador, por isso, muitos deixam de ler, imaginando uma literatura morta nas tumbas do século XIX.
Quando chega a notícia que o STF vai julgar obras de Monteiro Lobato, alegando denúncias de racismo do autor impregnados em suas obras, fechamos a cortina, acendemos as luzes do palco e – se a literatura é uma ficção, pode ela ser julgada? Se autor e narrador não são a mesma pessoa, pode um ser julgado pela interferência do outro? Madame Bovary, sou eu, afirmou Flaubert, seria essa a maldição que assola muitas vezes autores e obras.
Longe do processo lobatiano, em um país em que a leitura é muito mais comentada que folheada, um conto como Negrinha do próprio Lobato, mostra que a literatura humaniza e não precisa de temas transversais, paradidatismo e perguntas sobre a editora do livro.
Em tempos de “tons cinzas” entre os mais folheados e comprados no mundo, sei que a Shara, uma menina de quatro anos, adora escutar narrativas do Machado de Assis, desfaça tudo o que leu sobre literatura clássica nessa crônica e acredite: isso sim é uma auto ajuda verdadeira e está há tantos séculos na fala das pessoas – até mesmo de uma criança.
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