Crônica publicada originalmente no site Cultura Plural, coluna: Chocalho de Palavras, 06/12/2011.
Nunca sai de casa sem levar o guarda-chuva nos últimos vinte anos. E assim tem sido, se vejo pela vidraça da janela do escritório uma pequena nuvem aparentemente carregada, não tem jeito, pego este objeto incomodável para ser a amante de mãos dadas pela cidade. A chuva que ameaçava cair, cada pingo uma ópera para musicais hollywoodianos. E pelos outdoors a propaganda do motel com os sete, oito parcelamentos no cartão de crédito, provocando estranheza de alguns alunos na espera da condução que os leva de volta para casa depois de mais uma semana de cursinho pré-vestibular. Pensei, não que seja um erro, mas existe um paradoxo dividido pelo começo de uma avenida conhecida do centro da cidade. Quadras acima, descobri nesta mesma semana, que a primeira rodoviária da cidade é no local em que hoje funciona um dos jornais, os guichês de compra de passagens, ficavam no espaço em que encontramos parte do comércio – lanchonete, livraria e uma loja de malhas. Adiante, mais exato uma quadra acima, o primeiro cemitério.
A cultura histórica não li nas páginas ou em consultas na biblioteca municipal, por mais que muitas vezes a chave do conhecimento esteja decifrada pelo toque dos nossos dedos - livros, teclado do computador, é com a prosa e por ela que aprendemos. O cuidado com as historietas pode salvar um exilado com guarda-chuva nas mãos. “Proibido entrar com animais” – afirma a placa na entrada da farmácia, uma delas pelo menos tem isso na porta principal. Adiante, chocolates, bolachas doces, açucares variados. “Cuidado, açúcar”, slogan de um creme dental em promoção pague 2 e leve 3. A atendente pergunta se não vou levar chocolate hoje – meu riso deve ser traduzido por “é óbvio”.
Nos dias de instabilidade do veranico com os ponteiros no horário de verão, não sabemos se o guarda-chuva é a melhor proteção que qualquer filtro solar, ou um dos recursos contra as pancadas de chuva que costumam acobertar a cidade. Uma fórmula infalível para não perder o rumo das andanças é adquirir hábitos de não sair em dias com cheiro de chuva. A minha avó sempre dizia isso, nunca entendi direito essas coisas. Mais fácil saber de signos, não pergunte o meu, pouco sei dele, e desconfio que as previsões estão todas mais preocupadas em saber de 2012.
Na segunda-feira; tempo bom. Terça; poucas nuvens. Quarta; ninguém sabe nada. Quinta; o dia começou com céu limpo. Sexta; cansado, ventos fortes. Sábado; últimos do ano. Domingo; comprar guarda-sol.
Estou sem tempo e fiz uma listinha semanal, enquanto o barulho dos carros na madrugada na mesma avenida dos outros causos, não é moda com sonoridade musical, mas algo comportamental. Depois, guarda-chuva sempre incomoda apenas quem o carrega. Uma nuvem, quase 01:28, sábado.
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