domingo, 10 de julho de 2011

Dois mapas




A primeira vez que se perdeu não soube muito bem o que fazer. Isso deveria ser a razão trazida por todos os insensatos sentidos aprendidos com a vida. Mas ao sentir aquele gosto adoçado demais do chá, oprimia os erros que soavam verdades.

Pela ordem nada civilizada dos dias frios, resgatou dos guarda-roupas umas peças ganhas de uma antiga amiga. Nada era mais confortável que sair de casa bem protegida do inverno, que segundo os anúncios meteorológicos era o mais forte dos últimos dez anos.

Nas ruas o ar quente saído das bocas das pessoas forma o fenômeno que lembra os balões de falas em histórias em quadrinhos – um ponto chamativo para os turistas. Eles lotam a cidade com sua visão romântica do frio, herança dos filmes americanos, quando correr no Central Park e ver neve nos filmes infantis é algo doce.

Na verdade escreveria um texto que pudesse ser quente, algo que as crianças que caminham para um dia de aulas, ou mesmo os trabalhadores contariam para os colegas no cafezinho. Um parágrafo isolante, distante de todo e qualquer risco de sentir um ventinho a mais beliscar o dedo desprotegido.

Quando o ponteiro do relógio marcasse dez horas, sairia da saleta, atravessaria a rua, olhando atentamente para os dois lados, chegaria na floricultura com o preço mais em conta no centro da cidade – pediria descontos no ramo de rosas pechinchado em um telefonema. Ao chegar no trabalho, teria que dizer que uma senhora a pediu para ficar com as flores, pois ela iria ao um advogado para discutir questões referentes ao seu divórcio. Uma mulher de meia idade chegar no escritório segurando rosas, poderia ser interpretado como qualquer coisa que o direito julgue necessário. Mentiria para eles, jamais precisaria dizer a verdade, historicamente, somos obrigados pela verdade a sempre estar atento na realidade coesa das coisas.

Naquele dia não sairia mais de sua mesa de trabalho, apertaria as pernas quanto sentisse vontade de urinar, não permitiria mais perguntas sobre o ramalhete que estava ao lado dos seus pés.

O cachecol envolto em um nó torto cobria o pescoço, já sem cheiro, demonstrava o guarda-roupa de mais de um ano. Sem um mapa nas mãos, quis sempre homenagear os andarilhos gentis sem saber dos mapas do acaso, mas os dedos duros de frio – ritmando contra o calor exaurido das palavras.

A quentura de uma chaleira com água para mais um chá, o som da falta de pontuação, enganos vestidos pela velha amizade.

Umas simples rosas compradas com desconto – sorriu espantando o frio acumulado do inverno. Continuaria a ser perder toda vez que precisasse de uma palavra para esconder as noites frias.































Um comentário:

Larissa de Cássia Antunes Ribeiro disse...

Encontrei nesse texto a delicadeza do desconforto. Interessante!