quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Ronaldo [apenas, Ronaldo]


Ronaldo parou. Tardiamente, dizem alguns. Outros, na hora certa. Muitos afirmam que o jogador ainda tinha muito para jogar. Ronaldo parou.

O anúncio de sua autoaposentadoria na última segunda-feira repercutiu no mundo todo. Não apenas pelas cifras milionárias movimentadas pela presença do centroavante em campo, maior artilheiro da história das Copas, bicampeão mundial com a seleção, três vezes escolhido o melhor do mundo pela FIFA. Gols, muitos gols – 471 ao todo. Nestes poucos dias após a saída de Ronaldo dos campos profissionais, percebi uma enxurrada de textos, que estão apegados as comparações (não que elas sejam equivocadas, pelo contrário, muitas vezes são necessárias) entre o jogador e outros tantos craques brasileiros que aposentaram as chuteiras.

O ufanismo chegou a denegrir a Conquista da Copa de 2002 e os méritos de Ronaldo em comparação com a conquista do tetracampeonato mundial em 94 nos Estados Unidos, quando Romário foi o grande nome da conquista do selecionado nacional.

São comparações desnecessárias no momento, cada momento teve seus responsáveis, assim foi também em 58,62 e 70.

A maior saudade que bate no peito dos aficcionados pelo esporte bretão quando da aposentadoria de um grande jogador é a ausência de certas passagens no papo futebolístico. No dia posterior a uma partida, aquelas conversas são a gordura colocada nos pratos de uma “literatura” de assuntos sobre futebol.

Claro, o esporte por ser o mais tradicional do mundo jamais permitirá entrar em extinção essa herança prosaica de bate bola nas prosas. Porém, com aposentadoria do Ronaldo, ficamos deslocados, acrescentando ao vocabulário um novo “adjetivo futebolístico” – esse gol o Ronaldo não perdia.

Infelizmente o novo no futebol carrega a sombra do anterior. Certamente isso não é moderno, todos os que se aventuram pelos gramados passam por isso. Ronaldo foi mais um, mas deixa como importante contribuição a linguagem do futebol o seu adjetivo de goleador.

Armando Nogueira dizia: “Heróis são reféns da glória. Vivem sufocados pela tirania da alta performance”. Talvez, Ronaldo não soubesse dessa afirmativa, pois mesmo cambaleando fisicamente nos últimos anos, conseguiu despertar medo nos beques, respeito nas torcidas adversárias e ainda fazer gols decisivos. Por mais que o corpo estivesse deformado, a bola nunca esteve em seus pés.

A aposentadoria do Ronaldo deixa o futebol mundial mais fragilizado e a mercê das lembranças que buscamos nas enciclopédias futebolísticas. A partir de agora, encontraremos Ronaldo Nazário por lá.

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