sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Visita


Pediu licença para os presentes e levantou-se da mesa. Sem muitas cerimônias passou direto pelos seguranças que carregavam suas sombras.

Hoje vou sair sozinho. Disse ele.

Senhor, não podemos deixá-lo.

Quem disse tamanha barbárie?

O senhor mesmo – respondeu em tom próximo do inaudível um dos seguranças.

Por hoje, não quero vocês comigo. Não se preocupem nada vai acontecer. E saiu arranhando marchas. Sua posição social lhe impunha um afastamento da cidade que administrava. Passando pelo reduto dos bares do centro histórico, prendeu o olhar nas mesas cheias de jovens – ali tudo tinha um ar de Rimbaud.

O ar respirado era exalado dos cigarros de filtro vermelho, trazendo uma imagem das propagandas antigas da Marlboro. Suspirava com as lembranças dos primeiros cigarros fumados nos fundos da Igreja da Conceição, que passados mais de quatro décadas ainda mantinha a mesma cor na parte externa – um azul desbotado e único.

A ideia de sair pela cidade na madrugada surgiu após algumas discussões com assessores – você precisa sair pela cidade fora da época de eleição também. Ali dentro do carro vendo as zonas com luminosos em neon batendo no pára-brisa, jamais imaginaria que a sua cidade é também dos outros. Pelas esquinas usuários cada vez mais caídos por drogas. Em um remember das noitadas na adolescência trouxe que apenas o vinho acompanhava os meliantes pelo centro durante a noite.

No semáforo um jovem com um som no último volume estremeceu os vidros do carro – franzindo a testa se distanciou das críticas, afinal estava em uma noite festiva.

Após pouco mais de duas horas perambulando pela cidade, retornou para a sede social do clube. Ao descer do carro ficou contemplando o barulho da ventoinha.

Tudo bem senhor? Disse o segurança mais alto.

Prefeito, não passou susto na cidade? Perguntou com certa convivência o motorista.

Em silêncio apenas sorriu para os funcionários e voltou para o salão. Na imagem da sua cabeça estava a presença de um velho em frente a uma loja de armarinhos. Aquele sorriso, uma velha jaqueta jeans e um violão com o corpo descascado – os pés em sandálias apostólicas. O som vinha de longe, trazia ecos do começo da militância estudantil.

Quer? – indaga o velho.

Não posso.

Você pode.

Não posso.

Sem continuar com esse papo inconclusivo ele chegou até uma das janelas que davam para o estacionamento. Ali passou alguns minutos imóveis distante daqueles convidados. Na pista do salão a socialite dançava sem perceber sua presença. A chuva vai começar cair e o velho está sem guarda-chuva - pensava.

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